Frei Betto fala ex-cathedra em nome do Papa Francisco, mas revela ignorância científico-teológica

sábado, novembro 08, 2014

“Papa consagra Teoria daEvolução”, foi esse o título do artigo de Frei Betto, no jornal O Globo (06/11/2014), para contrastar o 1◦ Congresso Brasileiro de Design Inteligente onde cientistas brasileiros debaterão a tese do Design Inteligente – “Deus teria criado o homem diretamente”.

Frei Betto, um religioso, está em flagrante descompasso com a verdade epistêmica da TDI e de seus proponentes e defensores: a TDI não afirma que “Deus teria criado o homem diretamente”, mas é uma teoria científica minimalista que afirma existir sinais de inteligência na natureza que são empiricamente detectados todas as vezes que encontrarmos complexidade irredutível de sistemas biológicos e a informação complexa especificada como a linguagem do DNA.

Frei Betto, um religioso da ordem Dominicana (seja lá o que isso ainda signifique neste mundo pós-moderno) apanhado em flagrante desobediência ao mandamento: Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. Êxodo 20.16, NVI. 

Frei Betto destacou a declaração do Papa Francisco à Academia de Ciências do Vaticano, a 28 de outubro de 2014 de que o evolucionismo e o Big Bang não são incompatíveis com a existência de um Criador:

“Quando lemos a respeito da Criação no Gênesis, corremos o risco de imaginar que Deus era um mágico, com varinha de condão capaz de tudo fazer. Mas isso não é assim.”

Mas Frei Betto, que deve ter cabulado a aula de hermenêutica no Seminário, deixou de fora o contexto maior e esclarecedor da fala papal:

“Ele criou os seres e deixou que se desenvolvessem segundo as leis internas que Ele mesmo inscreveu em cada um, para que progredissem e chegassem à própria plenitude. E deu a autonomia aos seres do universo, assegurando ao mesmo tempo a sua presença contínua, dando o ser a todas as realidades. E assim a criação foi em frente por séculos e milénios, até se tornar aquela que hoje conhecemos, precisamente porque Deus não é um demiurgo nem um mago, mas o Criador que dá a existência a todos os seres. O início do mundo não é obra do caos, que deve a sua origem a outrem, mas deriva directamente de um Princípio supremo que cria por amor. O Big Bang, que hoje se põe na origem do mundo, não contradiz a intervenção criadora divina, mas exige-a. A evolução na natureza não se opõe à noção de Criação, porque a evolução pressupõe a criação dos seres que evoluem.”

Mas o que o papa Francisco quis dizer que Deus não é um mágico? Diferente de um mágico, e Frei Betto, como teólogo, sabe disso, Deus pode criar as coisas ex-nihilo e não manipulando a matéria já existente, mas como Autor e Criador de todas as coisas, inclusive toda a matéria do universo. Traduzindo em miúdos, o Papa Francisco crê que Deus é o Criador. E esse ponto de vista é rechaçado pela comunidade cientifica: Deus não entra nos paradigmas científicos.

Quanto às leis internas mencionada na fala papal, coincidência ou não, Frei Betto, mas a própria ciência fala delas:

“O plano corporal de um animal, e, por conseguinte, seu exato modo de desenvolvimento, é uma propriedade de sua espécie e é assim codificado no genoma. O desenvolvimento embrionário é uma transação informacional enorme, na qual os dados de sequência do DNA geram e guiam a distribuição espacial de específicas funções celulares por todo o sistema.”

“The body plan of an animal, and hence its exact mode of development, is a property of its species and is thus encoded in the genome. Embryonic development is an enormous informational transaction, in which DNA sequence data generate and guide the system-wide spatial deployment of specific cellular functions.”

Emerging properties of animal gene regulatory networks, Eric H. Davidson. Nature 468, issue 7326 [16 December 2010]: 911-920.

Davidson é professor de Biologia Celular no Instituto de Tecnologia da Califórnia, e não é proponente da TDI.

Frei Betto pinçou a declaração papal como coincidência com a realização do 1º Congresso Brasileiro do Design Inteligente, em Campinas, onde alguns desses cientistas defendem a teoria do TDI (Teoria do Design Inteligente), que preconiza “uma Inteligência Suprema, que muitos denominam Deus, criou diretamente a complexidade da célula humana”.

Frei Betto nunca leu nada sobre a TDI, pois sua ignorância do tema é revelada aqui: a TDI não é uma teoria de criação, mas de detecção de sinais de inteligência na natureza. Nada fala, pois como teoria científica, nada pode falar sobre a ontologia e o modus operandi de Deus como falou o Papa Francisco aos cientistas da Academia de Ciências do Vaticano.

Frei Betto parou no tempo e no espaço sobre a teoria da evolução! Hoje a hipótese de que todos os seres vivos descendem de um ancestral comum não é corroborada no contexto de justificação teórica, pois a biologia molecular não fornece evidência da existência de uma grande Árvore da Vida. Embora a seleção natural seja considerada pelos evolucionistas como o principal mecanismo responsável pelas características desses seres, na verdade a seleção natural é, NOTA BENE, um processo extremamente ineficiente para espalhar características numa população, a menos que uma característica tenha um coeficiente extremamente alto de seleção.

Wolfgang Pauli, laureado com o Prêmio Nobel de Física em 1945, era um crítico ferrenho do neodarwinismo:

“Em discussões com biólogos, eu encontro grandes dificuldades quando eles aplicam o conceito de ‘seleção natural’ em um campo bem amplo, sem serem capazes de calcular a probabilidade da ocorrência em um tempo dado empiricamente de apenas aqueles eventos, que têm sido importantes para a evolução biológica. Considerando a escala de tempo empírica da evolução teoricamente como infinita, eles então têm um jogo fácil, aparentemente, de evitar o conceito de intencionalidade. Enquanto eles fingem ficar desta maneira completamente ‘científicos’ e ‘racionais’, eles se tornam, na verdade, muito irracionais, particularmente porque eles usam a palavra ‘acaso’, não mais combinada com cálculos de uma probabilidade matematicamente definida, na sua aplicação para todos os eventos raros e únicos, mais ou menos sinônimos com a antiga palavra ‘milagre’.” (p. 27-28)

"In discussions with biologists I met large difficulties when they apply the concept of 'natural selection' in a rather wide field, without being able to estimate the probability of the occurrence in a empirically given time of just those events, which have been important for the biological evolution. Treating the empirical time scale of the evolution theoretically as infinity they have then an easy game, apparently to avoid the concept of purposesiveness. While they pretend to stay in this way completely 'scientific' and 'rational,' they become actually very irrational, particularly because they use the word 'chance', not any longer combined with estimations of a mathematically defined probability, in its application to very rare single events more or less synonymous with the old word 'miracle.'" (pp. 27-28)


Publicado no Journal of Consciousness Studies 13(3), 5-50 (2006).

Frei Betto não sabe, mas vai ficar sabendo – vem aí uma nova teoria geral da evolução – a Síntese Evolutiva Ampliada/Estendida, que não será selecionista e deverá incorporar alguns aspectos teóricos neolamarckistas. Pobre Darwin! Será anunciada somente em 2020.

Assim, 64 anos depois, nenhuma novidade e nenhuma mudança de direção na fala do Papa Francisco aos cientistas da Academia de Ciências do Vaticano, contra o que disseram outros papas, que permitiram que a evolução fosse discutida, com o claro entendimento de que a nossa criação é de Deus, e que descendemos todos de Adão e Eva, e que cada um recebe sua alma de Deus (Humani Generis, 1950, Papa Pio XII).

O Big Bang é considerado a explosão primordial que deu origem ao Universo, não é uma teoria, mas um modelo cosmológico. Fora este senão, Frei Betto foi brilhante na sua descrição histórica de como foi elaborado este modelo cosmológico.

Quanto à declaração do Papa João Paulo II: “Novas descobertas nos levam a reconhecer que a evolução é mais que uma hipótese. A convergência dos resultados de estudos independentes é argumento significativo em favor da teoria”, Frei Betto deixou de fora que o Papa questionou explicitamente a explicação darwinista/materialista da evolução humana, chamando-a de “incompatível com a verdade sobre o homem”.

E, em nome da Igreja Católica, penitenciou-se e reabilitou Galileu e Darwin.

A ignorância do Frei Betto sobre a TDI é profunda e maliciosamente perversa ao afirmar que mesclamos inadequadamente religião e ciência e, a partir de uma leitura literal da Bíblia, defendemos nossa descendência de “seu Adão e dona Eva”. Frei Betto sabe que Adão significa “terra” e Eva significa “vida” em hebraico.

Concordamos com ele – o autor do Gênesis não quis ensinar ciência, mas sua inferência de que o autor de Gênesis quis ensinar que “Deus incutiu em sua Criação uma dinâmica evolutiva própria, ora desvendada pela ciência” é dizer que teve acesso à mente de Moisés sobre sua intenção autoral.

Frei Betto perguntou: Se Adão e Eva tiveram dois filhos homens, Caim e Abel, como estamos aqui? A pergunta é dúplice de sentido e de resposta. Sem dúvida que não foi pela utilização de sistema excretor de Caim e Abel, pois isso não gera descendência. E em seguida, a pegadinha malévola: os criacionistas aprovam o incesto de Eva com seus filhos? A resposta dos criacionistas é não.

Pobre do Frei Betto que busca na ciência (um empreendimento humano mutável) muletas para se sustentar. Infeliz do Frei Betto que não ousa responder se crê na existência objetiva e real de Deus que age na história do universo e dos homens.