Um ano depois, "Climagate" ainda lança sombra sobre questão do aquecimento

quinta-feira, novembro 18, 2010

JC e-mail 4139, de 18 de Novembro de 2010.


"Se a maioria dos climatologistas considera desonestos os argumentos e táticas dos 'céticos', estão obrigados a se aparelhar para combatê-los em público"

Marcelo Leite é colunista da "Folha de SP", onde publicou o seguinte texto:

A revista britânica "Nature" publica nesta semana uma entrevista reveladora com Phil Jones, climatologista que se tornou o pivô do escândalo conhecido como "Climagate" há um ano.

Acusado de manipular e ocultar dados e de distorcer a ciência ligada ao aquecimento global, a partir de e-mails furtados por hackers dele e de seus colegas, Jones foi inocentado. Conta que recebeu ameaças, que pensou em suicídio e que, por alguns meses, só dormia com a ajuda de remédios.

O abatimento de Phil Jones mostra como o pesquisador médio está mal preparado para enfrentar a guerrilha movida pelos "céticos do clima", que defendem que o aquecimento causado pelo homem não existe.

Eles têm por objetivo central plantar uma semente de dúvida na ciência do clima, no que são auxiliados pelas incertezas inerentes à atmosfera.

Bombardeiam os adversários com questionamentos e pedidos de informação, a fim de garimpar deslizes que possam tornar-se munição.

No caso dos e-mails furtados dos servidores da Universidade de East Anglia (Reino Unido), onde Jones chefiava a Unidade de Pesquisa de Clima (CRU, na sigla em inglês), funcionou por algum tempo. Comentários cruéis, frases ambíguas e recomendações maliciosas davam verossimilhança à tese de que a CRU participava de uma conspiração para fraudar a ciência e calar os "céticos".

Jones afastou-se do cargo. Foi investigado por mais de uma comissão.

Nenhuma encontrou provas de fraudes, embora ainda não esteja afastada a hipótese de que ele tenha apagado e-mails eventualmente comprometedores. Jones passou na prova, mas raspando, porque o conteúdo de algumas mensagens vazadas jamais enfeitaria a biografia de alguém.

Sonegar dados e sugerir destruição de mensagens destoam da ética de transparência em pesquisa, baseada na ideia de verificabilidade. Pode-se tentar explicar a atitude de Jones pela futilidade e insinceridade dos pedidos, mas não justificá-la.

Jones se deixou aprisionar pela lógica de guerra dos "céticos" e se pôs na defensiva. Só ele tinha algo a perder com isso. Daí todo o abalo.

Os "céticos" desferem seus ataques desde uma zona cinzenta, entre a periferia da pesquisa (há poucos cientistas atuantes na área em suas fileiras) e a franja de "think tanks" conservadores dos EUA. Malícia e táticas de propaganda não lhes mancham a reputação, em especial se bem sucedidas.

A ciência do clima é importante demais para permanecer refém desse conflito.

Se a maioria dos climatologistas considera desonestos os argumentos e táticas dos "céticos", estão obrigados a se aparelhar para combatê-los em público. E isso sem usar como recurso métodos e subterfúgios que lancem sombras sobre a credibilidade das relevantes respostas que buscam -e que aos negacionistas interessa desacreditar de antemão.

(Folha de SP, 18/11) 

+++++

NOTA CAUSTICANTE DESTE BLOGGER:

O Climategate é uma das maiores fraudes perpetradas em nome da ciência. O cientista em questão fraudou e manipulou os dados, foi apanhado com a mão na cumbuca, mas as comissões que livraram Jones de quaisquer suspeitas de atitudes antiéticas fizeram o que é chamado de esprit des corps. 


Traduzindo em graúdos: colocaram cabritos para tomar conta da horta na Nomenklatura científica, oops do Climategate. Deu no que deu: Jones foi declarado inocente assim como a esposa de César foi declarada fiel...


Os céticos, que Marcelo "Não damos espaço" Leite chama de negacionistas, mas eles são mais de 30.000 cientistas, não negam que há mudança climática, mas negam que ela seja unicamente provocada pela ação humana. Há outros fatores e não existe uma ciência adequada para isso.