Afinal, por que divulgar ciência e tecnologia?

quarta-feira, outubro 20, 2010

JC e-mail 4119, de 19 de Outubro de 2010.


"É necessário disseminar o conhecimento, cada vez mais, de forma acessível a toda a sociedade, uma vez que a vida depende da compreensão de temas científicos"

Dalira Lúcia Cunha Maradei Carneiro é jornalista da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e professora da Faculdade Católica de Uberlândia. Artigo enviado pela autora ao "JC e-mail"

O avanço da tecnologia, com o qual a humanidade convive hoje, é resultado de uma intensa investigação na área científica. Com a ajuda da ciência foram produzidos vários artefatos que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas, como por exemplo, o automóvel, o avião, o rádio, a televisão, o computador, o telefone celular e tantas outras coisas.

Sem dúvida, acumularam-se conhecimentos nas diversas áreas, proporcionando um aumento de expectativa de vida da população. Por outro lado, assim como a ciência e a tecnologia podem produzir progresso e bem estar, elas também contribuem para muitos malefícios, sofrimento e dor: armas atômicas e químicas, destruição da camada de ozônio, efeito estufa, poluição da terra e da atmosfera etc.

Como a ciência e a tecnologia repercutem diretamente no cotidiano da sociedade, elas suscitam questões que dizem respeito a todas as pessoas. Ou seja, a ideia ambígua entre as possibilidades de benefícios e danos causados leva à compreensão de que as questões científicas e tecnológicas são de natureza política e envolvem toda a sociedade.

Algumas áreas da ciência progrediram tanto que estão começando a repercutir na essência do que nos distingue como seres humanos. A cada dia, situações diferentes, problemas (e dilemas) éticos e morais são criados, e, em geral, a maioria das pessoas não está preparada para entendê-los, discuti-los, aceitá-los ou rejeitá-los.

Por isso é necessário disseminar o conhecimento, cada vez mais, de forma acessível a toda a sociedade, uma vez que a vida depende da compreensão de temas científicos: clonagem, células-tronco, inteligência artificial, transgênicos, identidade biológica, o papel do homem no universo e as consequências de suas ações no meio ambiente, os mistérios do mundo, entre outros.

Tudo isso fornece uma base para o debate e o esclarecimento público; não se trata reputar uma posição de aprovação ou reprovação da ciência e tecnologia, mas de dar condições para que o cidadão se posicione de maneira consciente com relação aos avanços técnico-científicos.

O velho dito de Francis Bacon, no século XVII, de que conhecimento é poder, já insistia na questão da responsabilidade da ciência para com a humanidade. E como dizia Federico Mayor, na década de 1990: "No próximo século (XXI), os conhecimentos científicos serão mais necessários do que nunca (...). O estímulo à comunicação do saber científico em todas as suas formas deve ser um componente central do novo 'contrato' entre a ciência e a sociedade".

Assim, a popularização de temas ligados à ciência e tecnologia traduz o direito da cidadania, tornando-se uma das condições necessárias à formação e capacitação das pessoas para lidarem com as questões do mundo. Educação científica significa preparar o cidadão para assimilar conhecimento e informações de qualidade, aprimorando o seu juízo crítico e, consequentemente, estabelecendo uma sociedade verdadeiramente democrática.

Desta forma, eventos como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia podem ser destacados como iniciativas do mais alto nível, pois representam um esforço coletivo que promove uma maior interação entre ciência, tecnologia e sociedade.

+++++

NOTA DESTE BLOGGER?

Dalira, que tal abordar e divulgar também o status epistêmico das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida no contexto de justificação teórica? Ou o que temos é tão frágil em termos de evidências que não se quer a divulgação e o debate dessas questões nos espaços públicos e acadêmicos?

Se essas teorias científicas são tão corroboradas assim com a lei da gravidade, por que não divulgar o status epistêmico dessas teorias?