Coleção Folha Livros que Mudaram o Mundo: A origem das espécies de Charles Darwin

segunda-feira, setembro 27, 2010


"(...) uma quantidade infinita de belas e admiráveis formas, originadas de um começo tão simples (...)
Charles Darwin (1809-1882)

Vou dar uma notícia meia atrasada. Faz tempo que não perco mais o meu precioso tempo lendo a Folha de São Paulo: é um jornal sim, que dá para a gente não ler!!! 

Numa tentativa para conquistar novos leitores e assinantes, a Folha de São Paulo lançou a Coleção Folha Livros que Mudaram o Mundo. E começou com qual livro? De quem mesmo? Gente, eu acho que vocês são telepatas. Isso mesmo, o Origem das Espécies, de ninguém nada menos do que Charles Darwin, o homem que teve a maior ideia que toda a humanidade já teve, mas que nunca foi corroborada pelas montanhas de evidências no contexto de justificação teórica.

"Theodosius Dobzhansky disse que nada em biologia faz sentido a não ser sob a luz da evolução. É a melhor síntese para o impacto de 'A Origem das Espécies' (1859). A evolução por seleção natural estreou ali com uma noção simples e poderosa: todos os seres vivos descendem de um ancestral comum e suas diversas espécies surgiram por lenta acumulação de diferenças que, sendo sendo favoráveis à sobrevivência e à reprodução do organismo, permanecem nas gerações seguintes. Começava uma revolução que dura até hoje". Marcelo Leite, jornalista especial da Folha de São Paulo.

O mantra dobzhanskyano não faz mais sentido. Hoje, nada em biologia faz sentido a não ser à luz das evidências. E as evidências teimam em não justificar Darwin. Que revolução é esta que sofre resistências, até científicas, desde 1859? Que revolução heurística é esta que já está sendo preparado o upgrade Darwin 3.0? É a Síntese Evolutiva Ampliada que talvez fique pronta em 2020, mas que Marcelo Leite e a Folha de São Paulo se recusam macular suas páginas pulcras e virgíneas. Que revolução heurística é esta onde a evolução ora se dá lenta e gradualmente, mas também se dá por saltos? Que ideia mais importante que toda a humanidade já teve, se a evolução se dá pela seleção natural, mas também ocorre por n mecanismos (de A a Z)? Que evolução é esta que se dá monofileticamente ou polifileticamente? E o dilema de Darwin - a explosão Cambriana que nunca é discutida, mas varrida para debaixo do tapete epistêmico?

Marcelo Leite, parabéns pela brilhante escolha da tradução de Eduardo Nunes Fonseca, da Hemus. Razões? Não é a edição preferida dos darwinistas. Eles preferem a 1a. edição porque, dizem eles, é a que mais preserva as ideias originais de Darwin. Eles têm razões e temores. Razão? Ao longo dos anos, e sob críticas pesadas e bem fundamentas de cientistas, Darwin se viu obrigado a ceder e mudar de opinião em vários pontos de sua ideia transmutacionista. Temores? Na 6a. edição, Darwin que desceu o cacete em Lamarck nas edições anteriores, é mais lamarckista do que o próprio Lamarck. 

Muito obrigado Folha de São Paulo, mas muito obrigado mesmo. Finalmente St. George Jackson Mivart, autor do Genesis of Species (1871), conforme Darwin um dos maiores críticos científicos da teoria da evolução através da seleção natural, ganhou finalmente ampla e merecida divulgação no Brasil que a Nomenklatura científica não queria e tentou impedir a todo custo fosse divulgado na minha dissertação de mestrado em História da Ciência na PUC-SP em 2008. Um dia, ainda escrevo sobre isso. Na 6a. edição, Darwin se viu forçado a escrever um capítulo especial para refutar as críticas de Mivart sobre o papel da seleção natural na origem das espécies. Uma controvérsia científica (1869-1872) que os darwinistas perdem o sono só de ouvir o nome MIVART.

A Folha de São Paulo foi muito, mas muito infeliz na escolha desta tradução: é uma das piores que existe em português, e foi feita, não em cima da 1a. edição (1859), mas da 6a. edição (1872) que os discípulos darwinistas ortodoxos fundamentalistas xiítas pós-modernos a la Dawkins repudiam como sendo uma distorção completa e abominável do pensamento original de Darwin. A Nomenklatura científica sente profunda ojeriza por esta edição, e não quer que os leigos, especialmente os estudantes do ensino médio, fiquem sabendo que houve um cientista do círculo de Darwin -- Mivart era protegé de Huxley, e foi recomendado por Darwin para ser eleito FRS - Fellow of the Royal Society, e foi um dos seus maiores críticos científicos a ponto de forçá-lo a escrever um novo capítulo na 6a. edição. É, a potoca que a Nomenklatura científica conta é que a resistência às ideias transmutacionistas de Darwin foi unicamente religiosa. NADA MAIS FALSO!!!

A 5a. edição do "A Origem das Espécies" publicada pela Hemus (sd) é de 471 páginas. Esta da FSP tem apenas 368 páginas. A conferir o que foi omitido. Espero que não tenha sido o capítulo 7 onde Darwin tentou refutar as críticas de Mivart.

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Lista dos livros que, segundo a Folha de São Paulo, mudaram o mundo, como se o mundo ficasse congelado e não mudasse seu entendimento sobre essas ideias:

1. A Origem das Espécies, Darwin
2. O Príncipe e Escritos Políticos, Maquiavel
3. A Interpretação dos Sonhos, Freud
4. Riqueza das Nações, Adam Smith
5. Apologia a Sócrates, O Banquete e Fedro, Platão
6. Discurso sobre o Método e Princípios da Filosofia, Descartes
7. A Utopia, Thomas More
8. A Metafísica dos Costumes, Kant
9. Principia - Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, Isaac Newton
10. O Livro Vermelho, Mao-Tsé Tung
11. A Política, Aristóteles
12. Confissões, Santo Agostinho
13. O Capital, Karl Marx
14. Do Contrato Social, Rousseau
15. Pensamentos, Pascal
16. A Democracia na América, Alexis de Tocqueville
17. Cândido ou O Otimista, Voltaire
18. Bíblia Sagrada
19. Alcorão Sagrado
20. Discursos que mudaram o Mundo, Vários Autores

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