Pesquisa e formação nas universidades

quarta-feira, abril 14, 2010

JC e-mail 3989, de 14 de Abril de 2010.

8. Pesquisa e formação nas universidades

Na Conferência Paulista de CT&I, especialistas destacam obstáculos na pesquisa acadêmica e na formação de pesquisadores

As deficiências no ensino básico têm apresentado reflexos nos cursos superiores e de pós-graduação nas universidades públicas paulistas. A afirmação foi colocada pela mesa que debateu a formação de recursos humanos durante a Conferência Paulista de Ciência, Tecnologia e Inovação (C&T&I), que foi realizada na sede da Fapesp nos dias 12 e 13 de abril.

A mesa contou com quatro pró-reitores de pós-graduação: Bernardo Arantes do Nascimento Teixeira, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Euclides de Mesquita Neto, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Marilza Vieira Cunha Rudge, da Universidade Estadual Paulista (Unesp); e Vahan Agopyan, da Universidade de São Paulo (USP). O relator foi o professor Sylvio Ferraz Mello, do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG-USP).

Agopyan, que também é membro do conselho superior da FAPESP, destacou que parte do problema da evasão de alunos das universidades públicas é explicada pelas dificuldades que apresentam em acompanhar os cursos. "Eles não conseguem médias mínimas, pois chegam despreparados à universidade", disse.

Segundo Teixeira, as universidades também deveriam ser responsáveis pela tentativa de melhorar a qualidade do ensino fundamental. Em sua opinião, as instituições de ensino superior poderiam colaborar participando da formação dos professores da rede básica de ensino.

Para o pró-reitor da UFSCar, o problema estaria relacionado à desvalorização da carreira docente. "Temos um grande número de vagas ociosas nos cursos de licenciatura, pois é difícil encontrar alunos dispostos a seguir a carreira docente", afirmou.

A falta de atualização dos métodos didáticos é outro fator que dificulta o aprendizado dos universitários, segundo Marilza. "Os alunos não suportam longas aulas teóricas. Eles estão acostumados com métodos de aprendizado colaborativo que não estamos empregando", disse.

De acordo com a pró-reitora de pós-graduação da Unesp, é preciso também pensar em novos formatos para os cursos de pós-graduação que atendam esse novo público. "É preciso respeitar o perfil da nova geração", disse.

Um material didático deficiente desde o ensino fundamental é uma das causas do desinteresse dos jovens por algumas disciplinas, na opinião de Agopyan, que criticou os livros que trazem pouca relação com a vida do estudante.

"É impossível fazer um aluno se sentir estimulado a estudar física com livros que só trazem fórmulas e exercícios", disse, ressaltando que esse é um problema que atinge também as escolas privadas.

O pró-reitor de pós-graduação da USP ressaltou que a apresentação do material didático é fruto de um ciclo que se perpetua à medida que professores que foram pouco estimulados acabam preparando materiais inadequados a uma educação mais dinâmica e estimulante.

Em relação à inovação, a pró-reitora da Unesp propõe que o assunto deveria ser tema de uma disciplina específica durante a graduação. "Noções de sigilo da informação estratégica, o estímulo às ideias e assuntos correlatos poderiam ser trabalhados em uma disciplina sobre propriedade intelectual comum a todos os cursos", disse Marilza.

Pesquisa acadêmica

A necessidade de se aumentar a rede de cooperação internacional foi citada por todos os participantes da mesa. Mesquita Neto, da Unicamp, considera baixo o índice de estudantes estrangeiros que vêm estudar na instituição. "Cerca de 40% dos alunos de mestrado são de outros Estados brasileiros, mas somente 3% vêm de outros países", disse.

Esse obstáculo tem sido trabalhado por meio da assinatura de acordos de cooperação com instituições estrangeiras, que facilitam o intercâmbio de alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.

A baixa intensidade das relações internacionais nas universidades também foi debatida na mesa sobre pesquisa acadêmica, mediada por Eduardo Moacyr Krieger, professor da Faculdade de Medicina da USP e membro do conselho superior da Fapesp.

Ronaldo Aloise Pilli, pró-reitor de pesquisa da Unicamp, destacou que a experiência internacional é pequena, especialmente entre os docentes mais jovens. Para amenizar o problema, defendeu a intensificação dos programas de pós-doutoramento no exterior e de atração de pessoal qualificado para atuar no Brasil.

A pró-reitora de pesquisa da Unesp, Maria José Soares Mendes Giannini, fez uma lista de demandas às quais a pesquisa no Estado de São Paulo deveria responder nos próximos anos, como a gestão de resíduos, o desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação e o estabelecimento de laboratórios paulistas dedicados a desenvolver fármacos e produtos diagnósticos.

Nessa linha, o pró-reitor de pesquisa da USP, Marco Aurélio Zago, chamou a atenção para as deficiências de infraestrutura enfrentadas pelos pesquisadores. "Faltam grandes equipamentos, serviços importantes à pesquisa e apoio ao pesquisador", levantou.

Esses problemas levam a uma perda de produtividade do pesquisador, segundo Cláudio Shyinti Kiminami, pró-reitor de pesquisa da UFSCar. "O preenchimento de documentos poderia ser feito por pessoal administrativo, e a operação de equipamentos, por técnicos especializados", sugeriu, com o objetivo de aliviar os pesquisadores de tarefas desse tipo.

O pró-reitor de pesquisa da Universidade Federal do ABC, Klaus Werner Capelle, destacou a necessidade de aumentar a visibilidade da pesquisa nacional no exterior. "As pessoas citam o que elas conhecem. Se o trabalho brasileiro não é conhecido, ele não será citado lá fora", disse.

Nesse sentido, sugeriu a criação de cursos específicos de redação científica e de conversação em língua inglesa, com o objetivo de capacitar pesquisadores a apresentar trabalhos no exterior.

Em relação ao baixo rendimento dos alunos que vêm do ensino médio, Capelle propõe a criação de bolsas de iniciação científica específicas para esse nível de ensino, de modo a estimular estudantes a entrar para a área de pesquisa. "Efeito semelhante seria obtido com a criação de meios de comunicação que falem diretamente aos jovens", disse.

(Fábio Reynol)

(Agência Fapesp, 14/4)