Uma hora a mais de aula tem impacto no ensino

terça-feira, outubro 27, 2009

JC e-mail 3876, de 26 de Outubro de 2009.

4. Uma hora a mais de aula tem impacto no ensino

Segundo estudo, aumento da carga horária em ciências faria Brasil ganhar oito posições em ranking internacional

Demétrio Weber escreve para "O Globo":

Uma carga horária maior em disciplinas como matemática, ciências e leitura melhora a aprendizagem dos alunos e pode ser um passo determinante em direção a um ensino de maior qualidade. O economista e professor Victor Lavy, da Universidade Hebraica de Jerusalém e da Universidade de Londres, analisou resultados de 50 países e constatou que uma hora a mais de aula por semana já aumenta a nota dos estudantes.

Lavy apresentará as conclusões da pesquisa nesta segunda-feira, no Rio, em seminário promovido pela Fundação Itaú Social.

Em média, segundo Lavy, uma hora a mais de aula de ciências diária, cinco vezes por semana, permitiria que a Espanha desbancasse a Finlândia, saltando do 31º para o 1º lugar no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa 2006), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil subiria da 52 aposição para, no mínimo, a 44 a à frente da Turquia e atrás do Uruguai.

O estudo conclui que uma hora a mais de aula por semana representa um acréscimo de cerca de 15 pontos na nota do Pisa, entre as nações da OCDE. Já nos países em desenvolvimento, o impacto é metade disso. Participam do exame jovens de 15 anos, independentemente da série em que estejam matriculados.

- Tais evidências podem ser muito importantes para a política (educacional), porque é relativamente fácil aumentar as horas-aula, desde que haja recursos disponíveis - escreveu Lavy.

O professor destaca, porém, que não basta ampliar a carga horária, já que o impacto está ligado diretamente à qualidade da escola. O raciocínio é simples: estudar mais tempo com um bom professor será muito mais proveitoso do que com um profissional despreparado.

Não é à toa que os estudantes no Primeiro Mundo dedicam praticamente o mesmo tempo às aulas de matemática do que seus colegas de nações em desenvolvimento - em média 3,3 horas por semana contra 3,1.

Mas atingem média de 506,5 pontos no Pisa, na escala até 850, ante 398,5 dos países em desenvolvimento.

Em média, as três disciplinas somam 9,2 horas semanais nas nações da OCDE contra 8,6 horas nos países em desenvolvimento. A nota média geral da OCDE nas três disciplinas é de 504,3 ante 399,7 dos países em desenvolvimento.

A pesquisa levou em conta ainda avaliações em Israel.

No Brasil, o número médio de horas-aula de matemática por semana, em 2006, era de 2,7; ciências, 2; e leitura (o equivalente à língua portuguesa), 2,6, totalizando 7,3 horas semanais para as três disciplinas. A pesquisa cita dados informados ao Pisa pelo governo brasileiro.

O levantamento considerou 49 dos 57 países avaliados pelo Pisa em 2006. Eles foram divididos em três grupos: OCDE, com 22 países; leste europeu (14); e nações em desenvolvimento (13). O benefício do aumento da carga horária foi medido dentro de cada grupo, já que as diferentes realidades socioeconômicas impedem comparações gerais.

Para Lavy, o êxito de uma escola requer: 1) autonomia para contratar e demitir professores; 2) autonomia orçamentária, com liberdade para decidir se é melhor criar um programa de bônus para professores ou reformar o ginásio de esportes; e 3) total transparência na divulgação de avaliações externas (Prova Brasil) que mostrem o nível de aprendizagem dos estudantes.

Para professor, cabe aos gestores definir prioridades

Embora seu estudo revele que a ampliação da carga horária produz bons resultados, o economista ressalva que cabe a cada gestor decidir onde aplicar os recursos da educação. Indagado se seria melhor aumentar o número de horas-aula ou instituir um programa de bônus para professores, atrelado ao desempenho profissional e à aprendizagem dos alunos, Lavy respondeu: - É uma pergunta difícil.

Este estudo mostra o quanto é importante uma hora adicional de aula. Ainda não calculei a relação custo-benefício.

O que mostra o estudo

Brasil: O país subiria oito posições (do 52º lugar para o 44º) no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa 2006) com uma hora a mais por aula de ciências.

Acréscimo: Em média, uma hora a mais de aula por semana representa um acréscimo de cerca de 7 pontos na nota do Pisa nos países em desenvolvimento.

Países avaliados: O estudo levou em conta 49 dos 57 países avaliados pelo Pisa em 2006, sendo 13 de nações em desenvolvimento.

Média: A nota média dos países avaliados em 2006 em matemática, ciências e leitura foi de 504,3, ante 399,7 dos países em desenvolvimento.

Horas-Aula: O número médio de horas-aula por semana no Brasil (2006) foi de 2,7 (matemática), 2 (ciências) e 2,6 (leitura), totalizando 7,3 horas semanais.

Contraste: Em média, as três disciplinas somam 9,2 horas semanais no total das nações avaliadas pelo Pisa; nos países em desenvolvimento são 8,6 horas.
(O Globo, 26/10)