Um planeta suicida

quinta-feira, agosto 27, 2009

JC e-mail 3836, de 27 de Agosto de 2009.

20. Um planeta suicida

Astro gigante de céu de diamantes faz dança da morte com uma estrela

Trata-se de um planeta que, na verdade, não poderia existir. Pelo menos não por muito tempo. Ele é dez vezes maior que Júpiter (que por sua vez, tem massa 300 vezes superior à da Terra), apresenta uma órbita inferior a 24 horas e, muito em breve, estará em rota de colisão com a superfície de seu escaldante sol.

Pelas leis da física, o planeta WASP-18b, localizado a mil anos-luz da Terra, na constelação de Fênix, é grande demais para ficar tão perto de sua estrela. A interação de dois objetos tão maciços deveria atraí-los um para o outro num letal abraço gravitacional.

Astrônomos britânicos dizem que a localização de WASP-18b é uma descoberta interplanetária altamente incomum. Segundo os especialistas, ou eles deram a sorte grande de presenciar um evento excepcionalmente raro (algo como ganhar na loteria) ou, na verdade, desconhecem as forças gravitacionais que atuam fora do Sistema Solar.

- O problema com esse planeta é que ele tem uma massa muito grande e está muito perto de sua estrela (a 3 milhões de quilômetros, 50 vezes mais perto do que a Terra do Sol). Essa proximidade deveria criar tal campo gravitacional que induziria a um choque imediato. Mas eles estão numa espécie de dança da morte em câmara lenta - afirmou Andrew Collier Cameron, da Universidade de St. Andrew.

Mas o planeta tem, pelo menos, um bilhão de anos e, ao que tudo indica, teria ainda mais meio milhão de anos pela frente antes de ser tragado por sua própria estrela. A chance de detectá-lo nesta fase de seu ciclo de vida é de uma em 2 mil, segundo os cientistas envolvidos no estudo.

Pedras preciosas e um calor infernal

Para Cameron, trata-se de um planeta suicida e bizarro:

- É uma situação análoga à que faz com que o giro da Terra se desacelere e que a Lua se afaste do planeta - comparou. - Neste caso, no entanto, o giro da estrela é mais lento que o da órbita do planeta e, por isso, o sol deveria acelerar e o planeta se aproximar.

O WASP-18b é um dos mais de 300 exoplanetas (planetas fora do Sistema Solar, que orbitam estrelas distantes) já identificados. Ele foi descoberto por um grupo coordenado por Coel Helier, da Universidade Keele, e sua descrição foi publicada no último número da "Nature".

Trata-se de um planeta muito quente, similar a Júpiter, onde as temperaturas excedem os 2 mil graus Celsius - calor suficiente para criar nuvens de pedras preciosas feitas de silício. Se alguém pudesse, um dia, chegar ao planeta e sobreviver, teria uma visão espetacular: um céu salpicado de diamantes e safiras.

(Steve Connor, do Independent)

Programa lunar da Nasa não deve sair do chão

A Nasa vai testar amanhã a potência do primeiro estágio de sua nova geração de foguetes lunares - um passo fundamental do Programa Ares, que já consumiu US$ 7 bilhões para criar um veículo que os astronautas talvez nunca usem.

Quando o primeiro estágio é testado, ele é montado horizontalmente. A máquina entra em combustão, sacode e faz muito barulho, mas não é projetada para deixar o solo. O mesmo pode ser dito sobre os planos da Nasa para voltar à Lua e chegar a Marte. Periga nunca decolarem porque o desafio financeiro é ainda maior do que o tecnológico.

Orçado em US$ 108 bilhões, o programa para retornar à Lua em 2020 foi iniciado há cinco anos pelo então presidente George W. Bush. Mas um painel independente criado pelo governo de Barack Obama concluiu que o projeto só funcionaria dentro desse prazo se for investida uma verba extra de US$ 30 bilhões até 2020.

E mesmo para os ônibus espaciais (que em breve deverão ser aposentados) sair do chão não é uma tarefa fácil. Somente nesta semana, dois lançamentos para a Estação Espacial Internacional (ISS na sigla em inglês) foram cancelados.

Com a estação concluída, os planos da Nasa são de deixar o laboratório avançado dentro de sete anos. Se esse cronograma for mantido e não for lançada nenhuma missão à Lua, os astronautas não terão lugar algum para ir na próxima década.

O painel especial designado por Obama avaliou também outras opções para o programa espacial, como pular o retorno à Lua e ir direto para Marte ou algum asteroide. Ou ainda apenas viajar pelo Sistema Solar.

Mas tais opções são sempre descritas ao lado de expressões como "no menos pessimista dos cenários". No relatório final, a ser divulgado na próxima segunda, eles também apresentarão conselhos sobre o programa dos ônibus espaciais e os projetos da ISS

Casa Branca não quer custos extras

A Casa Branca orientou o painel a manter as atuais estimativas orçamentárias e, a partir disso, analisar a funcionalidade dos programas.

- Quando se quer fazer algo, é preciso ter o dinheiro para isso - afirmou a ex-astronauta Sally Ride, integrante do painel. - Este orçamento é muito, muito, muito difícil de se ajustar a um programa de exploração espacial.

As opções a serem apresentadas à Casa Branca serão, grosso modo, variações e combinações desses três temas: investir mais, fazer menos ou mudar radicalmente a política espacial do país. A mais radical das ideias do documento consiste em transferir parte das atribuições da Nasa à indústria privada.
(O Globo, 27/8)