Darwin qua Darwin: um darwinista social par excellence!

quarta-feira, junho 10, 2009

Darwin foi um defensor do Darwinismo Social

por David Tyler 10/06/09

Neste ano de Bicentenário do nascimento de Darwin, há muitos que querem provocar um mal-estar entre o Darwinismo como uma teoria científica e o Darwinismo como uma teoria filosófica, social ou política. Aqui na Grã-Bretanha, nós temos um projeto financiado pela Templeton Foundation [Fundação Templeton] chamado “Rescuing Darwin” [Resgatando Darwin] que procura fazer exatamente isso. O Darwinismo, afirma-se, é essencialmente uma teoria científica e precisa ser salva dos ateus, dos engenheiros sociais e outros que o estão levando muito além do domínio da ciência. Eis aqui um excerto do report “Rescuing Darwin” [Resgatando Darwin]:

“O Darwinismo Social não teve o monopólio de interpretar a evolução. Na verdade, na sua época a evolução tinha sido usada para apoiar cada “ismo” imaginável, inclusive o socialismo, o capitalismo, o racismo, a eugenia, o feminismo, o teísmo e o ateísmo. Como George Bernard Shaw salientou uma vez, Darwin “teve a sorte de agradar a todo mundo que tivesse interesses escusos”. O ponto importante é que, desde o princípio, a evolução foi entendida — e algumas vezes rejeitada— como uma teoria filosófica, social ou política, em vez simplesmente uma teoria biológica.” (p. 25)

Estra estratégia de apresentar o Darwinismo como ciência sem nenhuma bagagem filosófica ou ideológica merece ser criticada e desafiada. Muitos de nós argumentamos que a ciência necessariamente implica numa base filosófica, e que a fundação metafísica afeta inevitavelmente o modo como a ciência é praticada. Este blog, todavia, se preocupa com a evidência da história. Qual foi o pensamento de Darwin sobre o laissez-faire do Darwinismo Social? Ele merece ser resgatado daqueles que se aplicaram indevidamente a sua ciência para as ações da sociedade humanas? Ou ela está sendo expulsa de sua casa?


Que o verdadeiro Darwin se levante, por favor! (Fonte aqui)

“Esta é tarefa que coloquei para mim, quando eu exploro as seguintes questões: Quanta influência Spencer exerceu sobre o pensamento social de Darwin e vice-versa? O que Spencer e Darwin pensaram de suas opiniões de evolução social, especialmente como é relacionada com a teoria econômica do laissez-faire? Spencer foi um darwinista social? Darwin foi um darwinista um darwinista social?”

Os dois homens foram influenciados pela teoria populacional de Thomas Malthus. Os dois usaram e desenvolveram argumentos primeiramente feitos por Malthus. A análise de Weikart é que as opiniões de Spencer e Darwin fornecem um exemplo surpreendente de evolução convergente.

“Porque as ideias econômicas de laissez-faire foram tão proeminentes na vida política e intelectual inglesa na metade do século 19, não seria nenhuma surpresa que Darwin e Spencer assimilaram essas ideias independentemente. O pensamento deles sobre a sociedade humana foi fortemente modelado pelos valores e conceitos econômicos da metade da era Vitoriana tais como competição, divisão de trabalho, e adaptação.”

O pensamento de Spencer foi desenvolvido muito antes do pensamento de Darwin, embora as opiniões de Spencer possam ser descritas como lamarckianas. Depois de ler Darwin, ele incorporou a seleção no seu pensamento.

“Assim, muito antes de ter lido Darwin, Spencer (1851, 324) defendeu a posição de que o laissez-faire era necessário para garantir o progresso biológico, não somente por estimular algumas pessoas a melhorarem a si mesmas (lamarckismo), mas também pela sociedade ‘excretando os membros não saudáveis, os imbecis, os retardados, e os infiéis’(seleção darwiniana).”

Embora haja pistas do pensamento de Darwin sobre essas questões antes de 1871, foi somente após a publicação do “The Descent of Man” que nós temos algo mais substancial para mencionar.

“Mas não seria a evolução da moralidade, baseada no que Darwin chamou de instintos sociais, que melhorariam a luta pela sobrevivência entre os humanos? Isso não moderaria a luta pela sobrevivência com sentimentos morais que fariam com que os humanos cooperassem? Sim, explicou Darwin, quando ele mencionou o assunto sem rodeios na última metade do capítulo cinco, numa seção intitulada, “Natural Selection as affecting Civilised Nations” [A seleção natural afetando as nações civilizadas].

Nesta seção, Darwin explicou suas opiniões sobre como sua teoria influenciava na sociedade humana. Se alguém quiser saber se Darwin foi ou não um darwinista social, especialmente em relação à economia do laissez-faire, esta é a seção para se examinar.”

Após rever as opiniões de diversos estudiosos e desenvolver seus argumentos, Weikart concluiu que:

“Embora a defesa de Darwin da competição econômica do laissez-faire não fosse tão vocal nem radical quanto o de Spencer, ele nitidamente viu a competição econômica como uma parte integral da luta humana pela sobrevivência, e ele insistiu que os governos deveriam aumentar, e não diminuir, a competição.”

Assim, conclui-se que os dois homens foram darwinistas sociais, e que eles chegaram às suas opiniões bem independentemente. Darwin não tentou se distanciar de Spencer nessas questões.

“Apesar de quaisquer diferenças entre eles, Darwin e Spencer foram darwinistas sociais. Eles usaram os argumentos biológicos para justificar políticas econômicas planejadas para aguçar a competição humana. Eles advertiram contra o envolvimento do governo ou da legislação que reduzisse significantemente a competição econômica porque eles pensaram que isso resultaria em deterioração biológica. Eles desenvolveram essas ideias em um contexto intelectual e social comuns onde a economia do laissez-faire era a ortodoxia econômica. Spencer certamente que foi o primeiro dos dois a publicar suas ideias darwinistas sociais, se for apropriado usar este termo antes de 1859. As opiniões de laissez-faire de Spencer também foram mais radicais do que as de Darwin uma vez que a sua oposição à intervenção do governo era muito mais radical do que muito proponentes do laissez-faire. As opiniões de Darwin estavam mais alinhadas com a economia laissez-faire em voga.”

A tarefa para casa é esta: O Darwinismo não é uma teoria puramente científica. A ciência não pode ser divorciada da filosofia subjacente. Projetos como “Rescuing Darwin” [Resgatando Darwin] estão fundamentalmente defeituosos e são filosoficamente simplórios. Os educadores têm a obrigação de apresentar para seus alunos estas questões de um modo que encoraje o pensamento crítico e a análise.

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Was Darwin or Spencer the Father of Laissez-Faire Social Darwinism?

Richard Weikart

Journal of Economic Behavior and Organization, 71, 2009, 20-28 | doi:10.1016/j.jebo.2007.06.011

Abstract: This article explores the way that Darwin and Spencer integrated laissez-faire ideas into their evolutionary biology, and how they then extrapolated from their evolutionary theories to social and economic thought. It argues that Darwin and Spencer developed laissez-faire social Darwinism independently, making both important progenitors of it.

Fonte.

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NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:

A formação do pensamento crítico e análise objetiva das teorias científicas por parte de nossos alunos é algo já preconizado na LDB 9394/96 e nos atuais PCNs, mas que não são objetivamente explorados nos livros didáticos aprovados pelo MEC/SEMTEC/PNLEM na abordagem das atuais teorias de origem e evolução do universo e da vida. O nome disso é DESONESTIDADE ACADÊMICA e VIOLAÇÃO DA CIDADANIA dos alunos ao LIVRE ACESSO DE INFORMAÇÕES sobre o atual status epistêmico dessas teorias científicas. E as implicações filosóficas e ideológicas da teoria da evolução de Darwin sobre a sociedade? Nenhuma palavra sequer.

Srs. Senadores, os Srs. aprovaram uma lei punindo os que roubam fósseis no Brasil. Os Srs. não vão considerar uma lei para os que ROUBAM a cidadania de nossos alunos, dos que ROUBAM sua formação adequada, dos que INTENCIONALMENTE sonegam informação científica atualizada?

Se os Srs. Senadores não considerarem a gravidade desta questão educacional, estarão sendo cúmplices com a manutenção deste estado de coisas.