Marcelo Leite: a 'causa sagrada' de Darwin é tão santa quanto Lucrécia Bórgia

segunda-feira, maio 25, 2009

A causa sagrada de Darwin

01/27/09
por David Tyler 11:07:05 am

A causa sagrada de Darwin

Os autores Adrian Desmond e James Moore são muito claro na opinião deles de que o contexto social é crucial para se compreender alguém, mesmo que eles tenham vivido gerações passadas, ou se eles estiverem vivos hoje. Eles aplicaram esse conhecimento a Charles Darwin. Eles estão cientes de que nem todos partilham da abordagem ou entusiasmo deles:

“Muitos cientistas e filósofos pensam que explicar o gênio e os seus insights como nós fazemos, mina o poder da ciência e, considerando-se o desafio do criacionismo, é um ato traição. A relutância de cavar abaixo da superfície dos livros de Darwin e dentro dos recursos socioculturais de sua época está tão obstinada como sempre.”
Estes dois autores tem trabalhado numa sequência à biografia deles intitulada “Darwin” de 1991, e o editor deles está afirmando que eles chegaram a uma “tese revolucionária”. Fala-se que o livro é “surpreendente”. Eles sugerem que o ódio de Darwin da escravidão foi a principal motivação do seu teorizar evolucionário.

“Um desses recursos n mundo de Darwin foi a antiescravidão [Nota do blogger: vai hífen ou não vai?], o maior movimento moral de sua época. A nossa tese é que os valores antiescravagistas foram colocados nele na juventude tornaram-se a premissa moral na sua obra sobre a evolução.”

e

“Nós não estamos tentando explicar satisfatoriamente toda a obra de Darwin como sendo devido à sua paixão pela emancipação, mas o nosso argumento é que a sua paixão pela unidade racial é que o conduziu a tocar neste assunto intocável e traiçoeiro.”

O novo livro (fonte aqui)

Embora o livro ainda não tenha sido publicado [Nota do blogger: O livro foi em 29/01/2009], Desmond e Moore forneceram um longo abstract do seu pensamento na Introdução de uma nova edição do The Descent of Man [de Darwin], publicado em 2004. Isso atraiu uma análise crítica nas páginas do The British Journal for the History of Science. Vale a pena salientar alguns dos pontos daquela resenha porque ela estabelece uma agenda para se avaliar a significância do novo livro quando ele surgir. O resenhista, Robert J. Richards considera a tese implausível em vários aspectos. Em primeiro lugar, ele acha que o caso deles é construído sobre inferência em vez de evidência direta:

“This account of Darwin's motivation for his theory of human evolution does suffer the inconvenience of being unsupported by any evidence. Darwin certainly was a foe of slavery. His abolitionist sentiments were nurtured in the enlightened Whig household of his father and voluble sisters, and his hatred of slavery became incandescent as the result of poignant experiences in South America. But there is no indication in the Descent - or elsewhere - that he formulated his conception of human evolution in order to undermine the peculiar institution.”

Em segundo lugar, Darwin exibiu uma tendência para o racialismo. Em vez de tomar oportunidades de enfatizar a igualdade de várias raças humana, ele chamou atenção para suas diferenças e ligou isso com a extinção de algumas.

“Despite Moore and Desmond's suggestions to the contrary, in his book Darwin described the races as forming an obvious hierarchy of intelligence and moral capacity, from savage to civilized, with the 'intellectual and social faculties' of the lower races comparable to those that must have characterized ancient man (p. 209). Accordingly, he ventured that 'the grade of their civilisation seems to be a most important element in the success of competing nations' (p. 212), which explained for him the extermination of the Tasmanians and the severe decline in population of the Australians, Hawaiians and Maoris. Those groups succumbed in struggle with more advanced peoples (pp. 211-22). In this respect Darwin was no different from Haeckel, whose conception of 'human genealogy' the Englishman emphatically endorsed in the introduction to his book (p. 19).”

A pista divide-se nitidamente quando esses autores consideram como que a seleção sexual foi abordada por Darwin. Primeiro, a análise de Desmond e Moore:

“The pair claim in a new book that Darwin partly chose to highlight the common descent of man from apes to show that all races were equal, as a rebuttal to those who insisted black people were a different, and inferior, species from those with white skin. They say Darwin attempted to show that his theory of sexual selection, where traits seen as desirable but which give no competitive advantage to a species are passed down through generations, was responsible for differences in appearance between races of both animals and humans.”

Contrastando, esta é a de Robert Richards:

“In the late 1860s Darwin and Wallace had a protracted disagreement about how sexual selection operated in birds and other organisms - hence Darwin's cascading discussions in the second volume of his book (almost four hundred pages) of sexual selection in beetles, butterflies, birds and bucks. But an even more significant dispute with Wallace arose because of his friend's conversion to spiritualism. Wallace had come to argue that the distinctive features of human beings - naked skin, aesthetic sense, moral character and large intellect - could not be explained by natural selection because such traits conferred little or no survival advantage. Only higher spiritual powers could have produced them. Darwin accepted Wallace's analysis that these traits could not be explained by natural selection, but he did not fall prey to Wallace's new faith. Rather, he proposed other powerful but natural forces to account for the distinctive traits characterizing human societies, namely the forces of sexual selection and group selection - elegant solutions to a vexing conceptual problem.”

Essas questões foram destacadas dois anos atrás e a orelha do livro pouco faz para despertar a confiança que eles vêm abordando. Nós não duvidamos que Darwin ficou chocado com a escravidão. Nós não duvidamos que ele tinha parentes e amigos que foram abolicionistas ativos. A questão que está sendo levantada é: Darwin foi motivados por essas convicções no desenvolvimento de suas ideias no “The Descent of Man”? Alternativamente, ele foi motivado por uma grande visão de toda a vida como o desenrolar de um processo evolucionário naturalista? Essas questões, sem dúvida, serão mais exploradas durante o ano do bicentenário. Mas, para concluir este blog, eis aqui algo que nós concordamos com Desmond e Morris (e que vai muito de encontro com a retórica sobre a ciência “pura” associadas com o darwinismo:

Pergunta: Quais lições este livro contém para a relação entre a religião e a ciência?

“Que ‘a relação entre a religião e a ciência’ nunca existiu; que a religião na ciência sempre foi a norma no tempo de Darwin, e ele nunca escapou de sua aura; que o teorizar biológico sobre a natureza humana inevitavelmente faz perguntas morais, e até onde essas questões tem respostas religiosas, neste sentido ‘religião e ciência’ são inseparáveis.”

Darwin's Sacred Cause: How a Hatred of Slavery Shaped Darwin's Views on Human Evolution

by Adrian Desmond and James Moore

Allen Lane, Publication date: 29 Jan 2009

An astonishing new portrait of a scientific icon. In this remarkable book, Adrian Desmond and James Moore restore the missing moral core of Darwin's evolutionary universe, providing a completely new account of how he came to his shattering theories about human origins. [snip]

Review of new edition of The Descent of Man

Robert J. Richards

The British Journal for the History of Science (December 2006), 39:4:615-617 | doi:10.1017/S0007087406409055

1st para: James Moore and Adrian Desmond have brought out a new paperback edition of Darwin's Descent of Man, and Selection in Relation to Sex. They chose the final printing (1879) of the second edition (1874) as the text, which for scholars will serve as a handy companion to the first edition (1871), readily available from Princeton University Press. For teaching purposes, the Penguin version may even be preferred to the first edition because of the inclusion of a chronology of Darwin's life, an appendix containing thumbnail sketches of individuals named in the text and, most especially, Moore and Desmond's provocative fifty-page introduction - an introduction admirable in its social detail and implausible in its deflationary thesis.

See also:

Gray, R. Charles Darwin's research to prove evolution was motivated by his desire to end slavery, Telegraph Online, 24 Jan 2009.

A Conversation with Adrian Desmond and James Moore.

+++++

NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:

Eu guardei na manga este artigo do meu amigo Prof. Dr. David Tyler desde janeiro de 2009, porque eu sabia que algum artigo 'louvaminhando' Darwin por ser abolicionista e ter sido motivado pelo poligenismo para desenvolver sua teoria da evolução conforme tese desenvolvida por Desmond e Moore neste livro, seria publicado no Brasil.

O artigo "O outro Darwin" de Marcelo Leite, da Folha de São Paulo, caiu como luva de pelica - por não ser historiador de ciência, ele desconhece que Desmond e Moore são historiadores não muito bem conceituados pela historiografia de ciência 'mainstream'.

Este novo livro de Desmond e Moore então, deixou muito a desejar, mas foi mais um livro na 'indústria' louvaminhando o gênio impoluto de Darwin. Nada mais falso.

Qualquer dia eu publico uma relação de ideias racistas do guru de Down que preconizavam o genocídio de 'raças humanas inferiores' encontradas no "The Descent of Man".