A Nomenklatura científica e o descompasso com a verdade em um passado não tão distante

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

RESENHAS HISTÓRIA DA CIÊNCIA

O cientista criativo

Coletânea de textos sobre a vida e o legado de Charles Darwin celebra as ideias do naturalista inglês

Para celebrar o bicentenário de Charles Darwin (1809-1882) e os 150 anos da publicação da obra em que ele apresentou as bases científicas da teoria da evolução pela seleção natural, o livro Charles Darwin: em um futuro não tão distante mostra ao público o legado do naturalista inglês na contemporaneidade. Longe do estereótipo do cientista, a obra evoca um Darwin jovem e criativo, cujas ideias até hoje influenciam as mais diversas áreas da ciência.

A intenção dos organizadores do livro é fazer com que as ideias de Darwin alcancem um público cada vez maior, especialmente em um momento em que o ensino do criacionismo como alternativa ao evolucionismo tem ganhado força.

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NOTA DO BLOGGER 1: Em nenhum estado laico e democrático, o ensino do criacionismo será ‘alternativa ao evolucionismo’. É preciso ler no avesso aqui: a Nomenklatura científica trás o criacionismo à tona para blindar Darwin de quaisquer críticas científicas.

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Eles ressaltam que é justamente por essa “falta de cultura científica no mundo contemporâneo” que a celebração do nascimento de Darwin e da publicação de A origem das espécies é tão importante.

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NOTA DO BLOGGER 2: Não existe isso de ‘falta de cultura científica no mundo contemporâneo’. Pelo contrário, há uma grande explosão e acesso de conhecimentos. O que a Nomenklatura científica não quer é que Darwin-ídolo seja despojado do seu pedestal. Os ídolos foram feitos para destruição.

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Não à toa, portanto, o mote da produção do livro foi dar continuidade ao trabalho iniciado com a exposição itinerante Darwin. Organizado durante o ano de 2008 pelo Instituto Sangari e pelo Museu de História Natural dos Estados Unidos, o evento contou com um ciclo de palestras sobre a vida e a obra do naturalista em cada cidade por onde passou.

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NOTA DO BLOGGER 3: Esta Exposição Darwin foi apanhada em descompasso com a verdade histórica denunciadas neste blog quando realizada no MAM-SP. Vide aqui, aqui, aqui. Naquela ocasião, nenhum historiador da ciência brasileiro especialista em Darwin contestou minhas denúncias. Até agora nenhum deles me demonstrou em falta com as evidências históricas. QED: A Exposição Darwin faltou com a verdade histórica em certas ênfases a favor de Darwin e de sua teoria da evolução.

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Os ensaios presentes no livro são fruto das palestras proferidas no Rio de Janeiro por representantes de diversas áreas do conhecimento. A linguagem utilizada pelos autores é simples e, embora haja referências que o leitor menos especializado possa não compreender, um glossário presente ao final do livro consegue sanar dúvidas sobre termos mais técnicos ou alusões mais obscuras.

Abrangência temática

O primeiro capítulo, elaborado pelos próprios organizadores, é ideal para o leitor que não tem intimidade com a temática evolucionista, pois apresenta uma contextualização da importância e da atualidade da obra de Darwin, bem como um breve resumo de sua vida e de suas principais ideias.

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NOTA DO BLOGGER 4: Por que não abordaram as dificuldades teóricas fundamentais da teoria geral da evolução?

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Nos demais capítulos, especialistas de diferentes áreas, desde a biologia evolutiva até a economia, abordam temas relacionados às ideias do naturalista.

Merecem destaque o texto da neurocientista Suzana Herculano-Houzel, que põe em cheque os mitos da superioridade do cérebro humano, e o do psicólogo César Ades, que prevê que “em um futuro não tão distante” a teoria evolutiva será determinante para a compreensão do comportamento humano. O geneticista Sérgio Pena trata de um tema muito discutido em suas colunas na CH On-line a desconstrução da ideia de raça no gênero humano.

Para quem se pergunta por que ainda se fala tanto de Darwin, o curador do Museu de História Natural dos Estados Unidos, Niles Eldredge, apresenta um texto introdutório em que busca explicar como, em meio a tantos gigantes intelectuais efêmeros, a figura de Darwin permanece sólida no imaginário contemporâneo ocidental.

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NOTA DO BLOGGER 5: Marx e Freud já foram para escanteio na Akademia. Darwin não está se sentindo muito bem, e só continua porque a Nomenklatura científica blinda Darwin contra os ataques de todos os críticos.

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Eldredge afasta a imagem do senhor idoso e reflexivo que costumamos associar a Darwin e evidencia o aspecto jovem e criativo do cientista.

De maneira geral, não há lugar para críticas à vida ou à obra do naturalista inglês em Darwin: em um futuro não tão distante. Os 200 anos do nascimento do naturalista inglês são comemorados na obra com admiração e reflexão.

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NOTA DO BLOGGER 6: Como não houve lugar para críticas à obra do naturalista inglês, mesmo não tendo lido o livro, as suspeitas que levantei neste blog parecem se confirmar: douraram novamente a pílula a favor de Darwin.


Charles Darwin: em um futuro não tão distante
Maria Isabel Landim e Cristiano Rangel Moreira (orgs.)
São Paulo, 2009, Instituto Sangari
168 páginas – R$ 35,00
Tel: (11) 3474-7500