Nomenklatura científica brasileira declara: o darwinismo é “Theoria perennis”

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Não existe "teoria do tudo", os físicos até que tentaram, mas mesmo assim a Nomenklatura científica brasileira acabou de declarar: o darwinismo é “Theoria perennis” e tem influência além da biologia.

Não sei porque, mas me lembrei daquela frase acadêmica magistral de Garrincha, durante uma reunião do técnico Feola com os jogadores da seleção brasileira em 1958 antes do jogo com a Rússia. Depois de ouvir que jogador tal do Brasil iria fazer isso ou aquilo na marcação de tal jogador russo, e aí o Brasil faria gol e venceria o jogo, Garrincha [deveria ganhar Prêmio Nobel por isso], disse ou perguntou: "Nós já combinamos com os russos?"

Não existe "Theoria perennis" em ciência. É preciso sobriedade, objetividade e honestidade acadêmica para repensar e analisar o mantra de Dobzhansky de que 'em biologia nada faz sentido, a não ser à luz da evolução'. A afirmação científica correta é nada em biologia faz sentido a não ser à luz das evidências. Se a cada dia que passa as especulações transformistas de Darwin vem sofrendo baque epistêmico no contexto de justificação teórica, e já vem uma nova teoria da evolução - a Síntese Evolutiva Ampliada, que não será selecionista, me parece que esta influência do pensamento darwinista além da biologia é um exagero retórico, e uma prostituição epistêmica em outras áreas científicas onde Darwin sequer teve competência.

Além de ser uma baita confissão de nossa obstúpida obtusidade. Fazer o que, se Darwin já disse tudo, e todos pensando a mesma coisa e ninguém pensando em nada. E ainda dizem que a teoria do Design Inteligente impede o avanço da ciência...

Vide blog sobre a Exposição Darwin eivada de omissões e distorções históricas.

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Darwin multidisciplinar

18/2/2009
Por Fábio de Castro

Livro reúne artigos de pesquisadores de diversas áreas e mostra que influência do pensamento evolucionista vai muito além da biologia

Agência FAPESP – A contribuição de Charles Darwin (1809-1882) à sociedade transcende a biologia e o próprio universo acadêmico. Essa é a idéia central do livro Charles Darwin – Em um futuro não tão distante, lançado nesta terça-feira (17/2) em São Paulo.

A coletânea de artigos, que comemora o bicentenário do nascimento do naturalista britânico e os 150 anos da publicação de sua principal obra, A Origem das Espécies, baseia-se no ciclo de palestras realizado no Rio de Janeiro em associação com a exposição Darwin, em 2008, pelo Instituto Sangari.

Organizado por Maria Isabel Landim e Cristiano Rangel Moreira, pesquisadores do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e co-curadores da exposição, o livro enfoca, sob o ponto de vista de diferentes áreas, aspectos da biografia e da teoria de Darwin.

De acordo com a organizadora, um dos principais objetivos da obra é apresentar ao grande público a contemporaneidade do pensamento evolutivo.

“Procuramos condensar no livro os diversos pontos de vista apresentados no ciclo de palestras, que mostravam como as ideias de Darwin ultrapassam as ciências da vida e ajudam a compreender uma série de fenômenos que não costumamos rotular como biológicos”, disse Maria Isabel à Agência FAPESP.

O primeiro capítulo da obra, de autoria dos próprios organizadores, foi produzido exclusivamente para o livro e concentra os aspectos biográficos. Segundo Maria Isabel, além de situar os leitores pouco familiarizados com a vida de Darwin, o capítulo também apresenta uma interpretação atual sobre sua biografia.

“Procuramos situar a figura de Darwin na própria teoria evolutiva contemporânea, mostrando as diversas transformações que ela sofreu durante esses 150 anos e apontando os aspectos que gostaríamos que tivessem mudado, mas que permanecem inalterados no senso comum”, disse.

Um dos capítulos foi escrito por Armando Bittencourt, diretor do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha. “Apaixonado pela história das expedições científicas no Brasil, ele traça um paralelo entre as viagens de Darwin, Alfred Wallace e Henry Bates ao país”, disse Maria Isabel.

Nelio Bizzo, da Faculdade de Educação da USP, revê alguns temas darwinianos, desfazendo certos mitos sobre o naturalista. “Ele derruba, por exemplo, o mito de que A Origem das Espécies teria sido um best-seller na época. Na verdade, foi apurado que os livreiros faziam uma espécie de venda casada, ‘empurrando’ o livro de Darwin para quem quisesse comprar outros títulos mais populares”, contou.

Comportamento e desenvolvimento

Mario Pinna, do Museu de Zoologia da USP, apresenta uma introdução à perspectiva evolutiva. “Ele traça os principais aspectos da lógica do pensamento evolutivo para o grande público, mostrando como isso se reflete nas classificações biológicas hoje conhecidas”, disse Maria Isabel.

O capítulo de autoria de Suzana Herculano-Houzel, professora do Departamento de Anatomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, analisa o cérebro humano sob a perspectiva da evolução.

“A partir das pesquisas desenvolvidas em seu laboratório, a professora estabeleceu a ‘receita’ da construção de um cérebro de grandes grupos de mamíferos. Com isso, ela demonstrou que nosso cérebro não tem nenhum ingrediente especial. É apenas um cérebro de um primata de grande porte”, explicou.

Cesar Ades, professor do Instituto de Psicologia da USP e diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da mesma universidade, escreveu o capítulo que gerou o subtítulo do livro: Num futuro não tão distante: Darwin e a ciência do comportamento.
“Ele propõe que hoje, dentro do prognóstico feito pelo próprio Darwin, a teoria evolutiva já contribui para a compreensão do comportamento humano”, disse Maria Isabel.

Sérgio Pena, professor do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em seu capítulo, desconstrói o fundamento bioideológico da separação da humanidade em “raças”, por meio de um detalhado histórico da origem desse conceito por meio de análises genéticas. “A proposta é que a divisão possível para a atual diversidade humana estaria em 6 bilhões de indivíduos”, disse a pesquisadora.

No último capítulo, o economista Sérgio Besserman, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, discute como o pensamento de Darwin pode ajudar a trilhar o caminho do desenvolvimento sustentável.

“Esse capítulo destaca as mudanças comportamentais que nos serão exigidas no século 21 para lidar com crises como a do aquecimento global”, disse Maria Isabel.

Charles Darwin – Em um futuro não tão distante
Organizadores: Maria Isabel Ladim e Cristiano Rangel Moreira
Lançamento: 2009
Preço: R$ 35
Mais informações aqui.