O fato, Fato, FATO da evolução cósmica corroborado por Darwin

sábado, setembro 20, 2008

Faz muito tempo que eu li a arrogância e a profunda ignorância de alguns cientistas e meninos e meninas da galera de Darwin afirmarem que o fato, Fato, FATO da evolução era tão certo assim como a lei da gravidade. Eu sempre afirmei aqui que os biólogos lançam mão da física para corroborarem a teoria da evolução biológica, mas que eu nunca tinha visto um físico fazer um paralelo entre a evolução cósmica e a evolução biológica, isto é, lançar mão da biologia para corroborar uma teoria da física.

Pois é, gente, mais uma predição minha que, parece, deu com os burros epistêmicos na água. Será? O Prof. Adilson de Oliveira, do Departamento de Física da Universidade Federal de São Carlos escreveu o seguinte texto sobre a evolução cósmica traçando o paralelo entre o desenvolvimento da vida na Terra e as transformações do universo.

Depois eu farei algumas perguntas para ver se a analogia do Prof. Adilson se sustenta tendo em vista que o fato, Fato, FATO da evolução desde 1859 ainda não foi comprovado no contexto de justificação teórica. Razão? A teoria geral da evolução é uma teoria histórica de longo alcance e isso torna esta teoria científica de difícil comprovação. E nós estamos falando somente de uns 3.5 bilhões de anos. E a evolução cósmica também não é uma teoria histórica de longo alcance? Bota longo alcance nisso: uns 15 bilhões de anos atrás. QED: Muito mais difícil de ser comprovada do que a merreca temporal dos 3.5 bilhões de anos para que a evolução biológica tivesse ocorrido.

Mas o que um pequeno milagre epistêmico de um artigo não faz socorrendo essas teorias históricas de longo alcance, não é mesmo? Será que a cosmologia quântica já explicou agora a emergência do universo e por que ele existe? Qual seria o paralelismo do fato, Fato, FATO da evolução cósmica depender do fato, Fato, FATO da evolução biológica?

A analogia em ciência, segundo Darwin, é uma faca de dois legumes. E o prof. Adilson foi infeliz, como físico, ao fazer esta analogia ridícula onde a física, ciência que tem leis, foi buscar corroboração epistêmica numa ciência que tem apenas princípios, mas nenhuma lei: a biologia evolutiva é uma ciência histórica. Não é “hard science”. Sem crise emocional gente, a biologia evolutiva não é “hard science”. Ponto final.

Faca de dois legumes? Acho que o espírito do saudoso Vicente Matheus, eterno presidente do meu glorioso Corinthians “baixou” em mim... E não adianta, ninguém tasca o título da segunda divisão, o único e o mais importante título que nos falta!

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A evolução cósmica

Adilson de Oliveira
Departamento de Física
Universidade Federal de São Carlos

Colunista traça paralelo entre o desenvolvimento da vida na Terra e as transformações do universo

As transformações fazem parte da nossa vida. Da concepção, que começa com uma única célula, à nossa morte, que resulta de uma falha fatal em algum órgão vital, cumprimos um ciclo. Cada indivíduo tem o seu. Durante a vida, experimentamos inúmeras situações, passamos por diferentes alegrias e tristezas. Todos esses eventos influenciam a trajetória que percorremos durante a nossa existência.

Os processos de transformação fazem parte da natureza. Tudo o que existe ao nosso redor também se altera, seja pela ação das forças naturais ou pela intervenção direta do homem. Em particular, devido ao ritmo acelerado dos dias atuais, as mudanças ocorrem de maneira cada vez mais rápida e intensa. Em escala de apenas algumas décadas, percebemos o quanto nosso mundo mudou e quanto ainda vai mudar no futuro próximo.

Hoje sabemos que todos os seres vivos do planeta são fruto de um processo de evolução. Do ponto de vista biológico, a evolução pode ser entendida como o conjunto de mudanças das características transmitidas hereditariamente de uma geração para a outra em um determinado grupo de organismos. Esse processo permitiu o surgimento de toda a diversidade biológica da Terra a partir de uma origem comum, há bilhões de anos.

Há milênios sabemos que o mundo também muda. Entretanto, os povos antigos, ao olhar para o céu, tinham a sensação oposta: ele parecia imutável e inabalável com o passar do tempo. As estrelas estavam sempre brilhando da mesma maneira e estáticas umas em relação às outras. Apenas alguns corpos errantes viajavam entre as estrelas, mas, mesmo assim, seus movimentos eram periódicos. Esses corpos errantes são os planetas, que, como a Terra, descrevem uma trajetória elíptica ao redor do Sol. A combinação dos movimentos da Terra e dos planetas gera as peculiares trajetórias desses astros nos céus.

Embora as estrelas do céu ainda nos pareçam imutáveis, sabemos que elas também evoluem. As estrelas nascem, desenvolvem-se e depois morrem. As estrelas nascem de gigantescas nuvens de gás e poeira denominadas nebulosas, que chegam a atingir anos-luz de extensão. A partir da condensação da matéria no interior das nebulosas é que se formam as estrelas. Quando estas adquirem determinada quantidade de massa, a pressão no núcleo estelar fica tão grande que desencadeia reações de fusão nuclear, que fornecem energia para as estrelas. Vimos alguns detalhes desse processo na coluna de novembro de 2007.

Universo em expansão

O universo como um todo também está em evolução. No início do século 20, o astrônomo americano Edwin Hubble (1889-1953) mediu a distância de algumas galáxias e descobriu que elas estavam se afastando umas das outras a enormes velocidades, indicando que o universo estava em expansão.

Como não há um centro privilegiado no universo, as galáxias se afastam de forma similar a manchas na superfície de um balão que está sendo inflado. As galáxias não viajam por um espaço vazio, mas o próprio espaço é que está se expandindo. Como conseqüência, a separação entre as galáxias é que aumenta. Não percebemos isso na escala humana e mesmo para objetos como as estrelas, porque as forças de coesão da matéria são muito mais intensas que esse efeito.

Esse fato estava previsto nas equações da teoria da relatividade geral de Albert Einstein (1879-1955), que utilizamos para descrever os efeitos gravitacionais, principalmente nas escalas cosmológicas. Contudo, quando publicou a teoria, Einstein ignorou esse resultado e fez uma correção, adicionando um termo para compensar a expansão do universo, pois, naquela época, acreditava-se que o universo era estático. Após a descoberta de Hubble, Einstein reconheceu que esse foi o seu maior erro.

Como o universo está em expansão, tudo o que existe deveria estar concentrado em uma única região em um passado remoto. Esse estado inicial, de densidade e temperatura infinitas, definido como singularidade, “explodiu” e deu origem ao universo. Esse evento – que chamamos de Big Bang (em inglês, a "grande explosão") – ocorreu há 14 bilhões de anos. Após esse instante, o universo começou a sua expansão e, como conseqüência, sua temperatura diminuiu.

Durante a expansão, a energia liberada na forma de radiação “esfriou” até transformar-se em radiação de fundo residual, que foi primeiramente observada pelos físicos norte-americanos Arno Penzias (1933-) e Robert Wilson (1936-) em 1965, com uma temperatura equivalente a cerca de 2,7 K (-266ºC). Esse fato ocorreu quando o universo era um “bebê de colo”, com apenas 300 mil anos.

Mas o que causou essa expansão? Como teria se iniciado esse processo? Nesse momento, ainda não temos resposta para essa questão. Existem apenas especulações, mas nenhuma certeza absoluta.

A inflação do universo

Uma teoria possível para explicar esses primeiros instantes do universo após o Big Bang é a chamada “teoria do universo inflacionário” (nada a ver com a inflação da economia que todos conhecemos). Segundo esse modelo, quando o universo tinha menos de um segundo, ele cresceu repentinamente a um fator de 10 70 (um seguido de 70 zeros).

Uma das evidências desse acontecimento seria o fato de o universo ser espacialmente homogêneo e isotrópico. Ele não teria essa característica se, em algum momento, suas diferentes partes não tivessem se comunicado casualmente umas com as outras. A inflação seria um possível mecanismo capaz de permitir esse efeito. Após esse fenômeno, o universo expandiu-se de forma mais lenta. Mas ainda é necessário descobrir o que deu início à inflação e à expansão.

Observações feitas nas últimas décadas mostram que a taxa de expansão do universo tem acelerado, como se houvesse uma força de repulsão gravitacional. Embora pareça estranho, uma força gravitacional repulsiva é compatível com a teoria da relatividade geral. Para tal, é necessário que a densidade de energia do universo seja dominada por uma matéria exótica, que gere uma pressão negativa no espaço. Esse tipo de efeito poderia ser produzido pela chamada “energia escura”, que também não é bem entendida ainda.

Algumas modificações nos modelos existentes devem acontecer nas próximas décadas ou novos resultados experimentais devem confirmar algumas dessas idéias. Em particular, com a entrada em funcionamento do LHC grande colisor de hádrons, em inglês), os cientistas poderão recriar na escala do laboratório situações semelhantes ao evento do Big Bang e talvez algumas dessas questões sejam esclarecidas e outras novas surgirão.

Nosso cotidiano se transforma rapidamente em meses e anos. A evolução biológica ocorre em tempos da ordem de milhares ou milhões de anos. A evolução cósmica se processa na escala de bilhões de anos. Eterna e imutável, somente a evolução.


Adilson de Oliveira
Departamento de Física
Universidade Federal de São Carlos
19/09/2008

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NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:

Ao ler o artigo do Prof. Adilson, não sei por que me lembrei de uma aula de catecismo de cosmologia quântica:

P: Do que o nosso universo evoluiu?
R: Nosso universo evoluiu de um mini-universo muito menor e muito mais vazio. Você pode pensar nele como se fosse um ovo.

P: Como era parecido o universo muito menor e muito mais vazio?
R: Era uma esfera quadridimensional com quase nada dentro. Você pode pensar que isso seja estranho.

P. Como pode uma esfera ter quatro dimensões?
R: Uma esfera pode ter quatro dimensões se tiver outra dimensão além de uma esfera tridimensional. Você pode pensar que isso seja óbvio.

P: O universo muito menor e muito mais vazio tem um nome?
R: O universo muito menor e muito mais vazio é chamado de “universo de Sitter”. Você pode pensar nisso como já sendo a hora de alguém prestar atenção a de Sitter.

P: Há mais alguma coisa que eu deva saber sobre o universo muito menor e muito mais vazio?
R: Sim. Ele representa uma solução às equações de campo de Einstein. Você pode pensar que isso seja boa coisa.

P: Onde estava aquele universo ou ovo muito menor e muito mais vazio?
R: Estava no lugar do espaço como nós conhecemos o espaço e que não existia. Você pode pensar nisso como se fosse um saco.

P. Quando ele estava lá?
R: Ele estava lá no tempo quando o tempo como nós conhecemos não existia. Você pode pensar nisso como sendo um mistério.

P: De onde veio o ovo?
R: O ovo, na verdade, não veio de lugar nenhum. Você pode pensar nisso como sendo algo surpreendente.

P: Se o ovo não veio de lugar nenhum, como é que ele chegou lá?
R: O ovo chegou lá porque a função da onda do universo disse que era provável. Você pode pensar nisso como sendo um acordo feito.

P: Como o nosso universo evoluiu de um ovo?
R: Ele evoluiu por inflacionar-se deste saco a fim de se tornar o universo onde nós nos encontramos. Você pode pensar nisso como sendo apenas uma dessas coisas.

David Berlinski, o autor do livro “The Devil’s delusion” [A ilusão do Diabo], afirma que isso não é uma paródia da cosmologia quântica. É cosmologia quântica pura. O artigo do Prof. Adilson é prova disso. [1]

Analogia? Prof. Adilson, analogia é faca de dois legumes! E o Sr. está perdoado pelo romantismo filosófico de atribuir eternidade e imutabilidade somente à evolução. De onde você tirou isso? Do tão propalado e menos observado método científico?

A conclusão é tão-somente subjetividade ideológica do Prof. Adilson: materialismo filosófico mascarado de ciência, mas amplamente divulgado através de um meio de divulgação científica popular, o CH, como se tivesse sido derivado da ciência.

NOTA:

1. David Berlinski, The Devil’s delusion. Nova York, Crown Forum, 2008, p. 104-106. Sendo traduzido para o português.