Clóvis Rossi ‘falou e disse’: a era das certezas sobre o fato, Fato, FATO da evolução acabou

domingo, setembro 07, 2008

Acabaram-se as certezas sobre o fato, Fato, FATO da evolução

SÃO PAULO - Era uma vez o tempo em que certos grupos de cientistas e jornalistas científicos tinham tantas certezas absolutas e definitivas sobre o fato, Fato, FATO da evolução que passavam a impressão de que seriam capazes de dizer, sem pestanejar, quantas espécies se transmutariam no dia 1º. de abril de 2011.

Pior para o público leitor não-especializado: os jornalistas científicos como Claudio Ângelo (desta Folha de São Paulo) e Reinaldo José Lopes (da Galileu) e o resto da Grande Mídia tupiniquim acreditavam cega e acriticamente nisso.

A crise epistêmica na teoria da evolução no contexto de justificação teórica se iniciou em agosto de 1859 com o lançamento do livro Origem das Espécies de Charles Darwin: seus principais aliados como Thomas H. Huxley, Joseph Hooker e Charles Lyell (sua maior inspiração) tinham reservas sobre a seleção natural como mecanismo evolutivo.

Na celebração dos 50 anos de lançamento do Origem das espécies realizada na Universidade de Cambridge em 1909, mais uma vez o poder da seleção natural foi colocado em dúvida pelos cientistas. Em 1959, celebrando os 100 anos do Origem das Espécies, desta vez na Universidade de Chicago, o fato, Fato, FATO da evolução foi questionado.

O avanço da ciência no século XX gerou ao menos essa formidável qualidade: alguns cientistas já não tinham e nem têm mais certezas, só dúvidas sobre a capacidade criativa da seleção natural explicar a diversidade e complexidade das coisas bióticas (e, os jornalistas, idem, idem, salvo um outro que acha que fala com Darwin todos os dias). Ah, minto, ainda há uma categoria de cientistas e jornalistas científicos, os profetas secularistas à la Dawkins, que continuam tendo certezas. Dia após dia, prevêem que a nota promissória epistêmica de Darwin será resgatada na primeira curva da esquina do FMI (Fundo Macroevolutivo Internacional). Um dia, quando acertam em pesquisas de fenômenos microevolutivos, eles se reafirmam em suas certezas ex-cathedra.

Tome-se, para citar só um dos muitos termos que os cientistas inventam para embasbacar platéias: a nova teoria da evolução tem o nome pomposo de “Síntese Evolutiva Ampliada”; Segundo as más línguas da turma do Design Inteligente, contrariando a Darwin, não será selecionista. “Ampliada” devido ao casamento com a Síntese Moderna, em crise paradigmática, mais a genômica que está bombando no pedaço biológico.

Ainda não houve momentos de certeza do termo "ampliada" e, agora, o noticiário não está, mas logo estará salpicado, aqui e ali, de certeza heurística da "Ampliada". Na vida real, só houve "ajuntamento" dos “16 de Altenberg” (Áustria, julho de 2008), onde alguns especialistas se reuniram silenciosamente.

Mesmo assim, a coisa não é linear: se se tomar agosto de 1859 como início da crise, a teoria da evolução através da seleção natural ainda navegava em águas epistêmicas positivas até agosto de 1980, ao contrário das demais teorias científicas. Só nas últimas décadas é que a teoria de Darwin entrou no vermelho do contexto de justificação teórica: as notas promissórias epistêmicas não foram resgatadas e o FMI (Fundo Macroevolutivo Internacional) não teve outra alternativa: é preciso “desalavancar” a seleção natural da teoria científica até então considerada pela Nomenklatura cientifica tão certa quanto a lei da gravidade.

A nova moda agora no jornalismo científico é falar de "desalavancamento" da seleção natural de Darwin. A revista “Nature”, uma das mais respeitadas publicações científicas, vê até o "grande desalavancamento" com olhares nunca dantes revelados, e que "continua sem pausa globalmente". Isso significa que no presente momento não há teoria da evolução disponível na praça para os biólogos trabalharem? A ciência não aborrece o vácuo paradigmático?

Errado, se a praça for a Nomenklatura científica, onde o crédito de Darwin continua e continuará se expandindo considerando-se as celebrações de beija-mão e beija-pé que ocorrerão nauseabundamente por todo o mundo em 2009.

Não dá para entender? Não se preocupe, a era das certezas acabou ou está hibernando. Menos com Darwin, capice???

crossi@uol.com.br

Um artigo-paródia baseado em texto de Clóvis Rossi

Acabaram-se as certezas
[Requer assinatura da FSP ou do UOL]

SÃO PAULO - Era uma vez o tempo em que um certo grupo de economistas tinha tantas certezas absolutas e definitivas que passavam a impressão de que seriam capazes de dizer, sem pestanejar, quantos milímetros de chuva cairiam no dia 29 de abril de 2011. Pior: os jornalistas acreditávamos neles. A crise financeira iniciada em agosto do ano passado teve ao menos essa formidável qualidade: os economistas já não têm certezas, só dúvidas (e, os jornalistas, idem, idem, salvo um outro que acha que fala com Deus todos os dias). Ah, minto, ainda há uma categoria de economistas, os profetas do apocalipse, que continuam tendo certezas. Dia após dia, prevêem uma catástrofe na primeira curva da esquina. Um dia, acertam e reafirmam-se em suas certezas.
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Não dá para entender? Não se preocupe, a era das certezas acabou ou está hibernando.

crossi@uol.com.br