Quem realmente alimenta o mito do conflito ciência versus religião?

quinta-feira, janeiro 03, 2008

A Nomenklatura científica e Grande Mídia brasileira através de seus editores de ciência e jornalistas científicos reverberam o surrado mantra sobre o conflito ciência versus religião. Do alto de suas inatacáveis torres de marfim, nossos impolutos formadores de opinião do conhecimento científico continuam, ex-cathedra, perpetuando este mito fajuto de que a ciência é racionalidade pura, e as concepções religiosas, irracionalidade absurda.

Nada mais patentemente falso. Há outras visões sobre a questão, mas a Grande Mídia brasileira em relação incestuosa com os atuais mandarins da Nomenklatura científica não publica “o outro lado”, por razões que somente o esprit de corps explica. Nada de jornalismo científico objetivo, plural e crítico. Não dão espaço para vozes e opiniões dissidentes.

“O conflito de Galileu com a Igreja, provavelmente, poderia ter sido evitado se ele fosse dotado de menos paixão e mais diplomacia; mas muito antes daquele conflito, ele incorreu na hostilidade implacável dos aristotélicos ortodoxos que detinham as posições-chaves nas universidades italianas. A religião e a opressão política desempenham somente uma parte incidental na história da ciência; o seu curso errático e recorrentes crises são causados por fatores internos.”

Durma-se com um barulho desses, mas

“uma das desvantagens evidentes é o conservadorismo da mente científica. Especialmente no seu aspecto corporativo. A matriz coletiva de uma ciência em um dado tempo é determinada por um tipo de establishment, que inclui as universidades, as sociedades de conhecimento e, mais recentemente, os cargos editoriais de publicações científicas especializadas. Como outros establishments, eles estão consciente ou inconscientemente encurvados em preservar o status quo, em parte, porque as inovações não-ortodoxas são uma ameaça à sua autoridade, mas também por causa de um temor muito profundo de que o seu edifício intelectual laboriosamente erguido possa colapsar sob seu impacto. A ortodoxia corporativa tem sido a maldição dos gênios de Aristarco a Galileu, a Harvey, a Darwin [???] e a Freud [???]; através dos séculos as suas falanges têm defendido rigorosamente o hábito contra a originalidade.” [1]



NOTA:

1. “Galileo’s conflict with the church could have probably been avoided if he had been endowed with less passion and more diplomacy; but long before that conflict, he had incurred the implacable hostility of the orthodox Aristotelians who held key positions at the Italian universities. Religion and political oppression play only an incidental part in the history of science; its erratic course and recurrent crises are caused by internal factors.

One of the conspicuous handicaps is the conservatism of the scientific mind in its corporate aspect. The collective matrix of a science at a given time is determined by a kind of establishment, which includes universities, learned societies, and, more recently, the editorial offices of technical journals. Like other establishments, they are consciously or unconsciously bent on preserving the status quo partly because unorthodox innovations are a threat to their authority, but also because of a deeper fear that that their laboriously erected intellectual edifice might collapse under the impact. Corporate orthodoxy has been the curse of genius from Aristarchus to Galileo, to Harvey, Darwin and Freud; throughout the centuries its phalanxes have sturdily defended habit against originality.” (Arthur Koestler in the Act of Creation, Nova York, Dell Publishing, 1967, p. 239).

+++++

Sobre os ombros de um gigante