Orgel ‘falou e disse’: a origem da vida ainda continua um Mysterium tremendum!

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Eu estou levantando material para elaborar um pôster histórico sobre as dificuldades químicas fundamentais que as principais teorias da origem da vida do século 20 não conseguiram suplantar, e que pretendo apresentar na X São Paulo Research Conference “Origens da Vida”, na USP, de 19 a21 de junho de 2008

A X São Paulo Research Conference vai reunir especialistas de áreas tão distintas quanto a astronomia, a cosmologia, a astrofísica, a química orgânica e a bioquímica, a biologia celular e molecular, para discutirem os pontos de vistas modernos, bem controversos, sobre as Origens da Vida.

No dia 26 de janeiro de 2008, eu recebi o último artigo de Leslie Orgel sobre a questão da origem da vida que poderia muito bem ser jocosamente intitulado: “Porcos não voam, e a vida não é o abracadbra do acaso e da necessidade”.

Leslie E. Orgel, pesquisador par excellence da origem da vida, faleceu em outubro de 2007, trabalhava no Salk Institute for Biological Studies [Instituto Salk de Estudos Biológicos]. Junto com Stanley Miller, famoso pela sua experiência nos anos 1950s que produziu apenas alguns aminoácidos, mas que foi incensada pela Nomenklatura científica e pela Grande Mídia como sendo a explicação plausível para a origem da vida, Orgel escreveu o livro Origins of Life on the Earth [Origens da Vida na Terra] (1973). Como cientista, Orgel trabalhou na área por décadas e conhecia muito bem todas as abordagens sobre a origem da vida.

Gerald Joyce [Scripps Institute] escreveu uma eulogia para Orgel na revista Nature em dezembro de 2007:

“Embora Orgel fosse um teórico, ele sempre exigiu que a teoria fosse sujeita a rigorosa validação experimental. Isso, ele percebeu, era especialmente verdade no campo das origens da vida, onde as teorias abundam em números e os fatos estão em falta.”

Estas palavras de Joyce vão reverberar dramaticamente no artigo devastador de Orgel criticando a rota do ciclo metabólico para a origem da vida recém-publicado postumamente na plos Biology de 22 de janeiro de 2008. A idéia que se ganha é a de que Orgel estava trabalhando neste artigo quando morreu.

Depois que eu li en passant o artigo de Orgel, eu não tenho boas notícias para dar aos pesquisadores da origem da vida: vocês não vão ficar nada encorajados no último artigo e testamento científicos de Orgel. Nós devemos ler este artigo cum granum salis, pois vem de alguém que gastou toda a sua vida acadêmica trabalhando e pensando sobre a evolução química.

O artigo é intitulado “The Implausibility of Metabolic Cycles on the Prebiotic Earth” [A implausibilidade dos ciclos metabólicos na Terra prébiótica]. O cabeçalho afirma “neste artigo, a contribuição final de sua carreira científica, Leslie Orgel explora as dificuldades severas que surgem quando estas propostas são escrutinizadas do ponto de vista da plausibilidade química.”

Nos anos 1990s a pesquisa sobre a origem da vida se bifurcou em duas abordagens discrepantes. A abordagem “genética” (Stanley Miller, Leslie Orgel, Jeffrey Bada, Steven Benner e outros cientistas) procurava macromoléculas prebióticas capazes de transportar informação genética: DNA, RNA, PNA, TNA e outras candidatas.

A abordagem mais nova, a “metabólica” é menos ambiciosa da expectativa desses polímeros complexos surgirem naturalmente. Este grupo propõe ciclos auto-sustentadores de elementos químicos mais simples que podem surgir para serem “cooptados” mais tarde pelo RNA armazenando informação e pelo DNA (Gunter Wachterschauser, Michael Russell, Harold Morowitz, Stuart Kauffman, e Robert Shapiro).

O que é interessante aqui no artigo de Orgel é que alguém poderia esperar que ele fosse ser parcial com a escola genética, mas as suas críticas finais da área são amplas o suficiente para levantar sérias preocupações sobre a capacidade dos processos naturais produzirem a vida por qualquer método. Se nós combinarmos este artigo com a crítica devastadora de Shapiro das abordagens genéticas ano passado, a idéia que alguém tem os dois grupos se degladiaram e receberam golpes mortais, caindo as duas juntas porque não passaram no contexto da justificação teórica.

Orgel não rejeitava completamente a abordagem metabólica em bases teóricas. Na verdade, ele afirmou no artigo, “Se os ciclos complexos análogos aos ciclos metabólicos pudessem ter operado na Terra primitiva, antes do aparecimento das enzimas ou outros polímeros informacionais, muitos dos obstáculos para a construção de um cenário plausível para a origem da vida desapareceria.”

Nós não devemos enxergar obstinação de Orgel nesta questão. Sem dúvida que ele daria boas vindas a tal descoberta. O que incomodava Orgel é a implausibilidade dos cenários metabólicos que, para ele, tornava-os inúteis no mundo real. Para Orgel, os cenários não podem ser meramente engenhosos e imaginativos: eles precisam obedecer as leis da química e devem ser experimentalmente demonstráveis.

Feyerabend se fosse vivo iria gostar do texto de Orgel: está disponível para a livre leitura pelo público. Orgel declarou, “O propósito principal deste ensaio é examinar a plausiblidade destes e de alguns ciclos não-enzimáticos hipoteticamente relacionados. Poderiam as moléculas prebióticas e catalizadores terem plausivelmente os atributos que devem ser designados a ele a fim de tornar a auto-organização dos ciclos possível?”

Aqui eu estou dependendo de alguém com muito mais conhecimentos do que eu em química para tentar destrinchar o jargão [nem sempre segui suas sugestões] e decifrar as principais críticas de Orgel:

1. O “poderia” somente não basta: “Deve ser reconhecido que a avaliação da exequibilidade de qualquer ciclo prebiótico particular proposto deve depender em argumentos sobre a plausibilidade química, em vez de uma decisão sobre a possibilidade lógica.” Afirmar que uma reação química seja possível não significa que ela irá ocorrer alguma vez. Quais são os reagentes específicos? Quão eficientes eles são? Os pesquisadores apresentar idéias que são quimicamente plausíveis, não apenas possíveis.

2. “No papel” somente não basta: “é um ciclo catalítico no qual uma seqüência complicada de reações enzimáticas é usada para realizar indiretamente uma reação que parece simples no papel, mas não facilmente alcançada na prática.” Um pesquisador precisa pensar sobre os co-fatores químicos exigidos, e a possibilidade de reações cruzadas que causam danos, por exemplo, ou se as reações num ciclo são prováveis de agirem num espaço de tempo realístico.

3. “Tempo” não basta: Um ciclo metabólico numa Terra primitiva pode ter tido muitas eras mais extensas para trabalhar do que um químico num laboratório. “Contudo, a identificação de um ciclo de plausíveis reações prebióticas é um passo necessário, mas não é um passo suficiente para a formulação de um ciclo prebiótico auto-organizador plausível.”

4. Saída para a direita, oops, saída para esquerda, onde é a saída mesmo? Cada passo num ciclo metabólico precisa ser bastante eficiente para manter todo o ciclo funcionando. “O ciclo não poderia sobreviver se as reações laterais escoarem mais da metade dos componentes do ciclo irreversivelmente, porque então a concentração dos componentes do ciclo decairiam exponencialmente para zero.”

5. Elos mais fracos quebram a corrente: Um pesquisador pode ser capaz de propor que cada etapa num ciclo metabólico, digamos as 11 etapas no ciclo reverso do ácido cítrico, seja plausível num ambiente prebiótico. “Contudo, as reações não são independentes porque cada reação é direcionada para completude pelo uso de seus produtos como o input para a reação subseqüente do ciclo.”

6. Não se esqueçam da minha Caloi, oops, da termodinâmica: Porque as reações são reversíveis, é provável que o input de uma etapa será esvaziado. “Qualquer que seja o input original, alguém acabaria com uma mistura de equilíbrio, cuja composição é determinada pela termodinâmica.” O equilíbrio significa que você está imobilizado e nada mais acontecerá.

7. Nem todas as reações são criadas iguais: Orgel relaciona sete reações no ciclo reverso do ácido cítrico (um cenário popular para um cenário metabólico auto-organizante) que são completamente diferentes. “O ciclo reverso do ácido cítrico envolve um número de tipos fundamentalmente diferentes de transformações químicas”, disse ele; “No mínimo, seis atividades catalíticas diferentes teriam sido necessárias para completa o ciclo reverso do ácido cítrico.” O que isso exigiria: seis ambientes diferentes sobre a Terra primitiva? Isso “poderia ser argumentado, mas com plausibilidade questionável,” destacou ele.

8. Cuidado com os políticos, oops, ladrões: Reações laterais danosas são freqüentemente mais prováveis de ocorrer do que as desesjadas. Orgel dá exemplos, tais como as difícieis reações de carboxilação. “Esta reação moveria o material irreversivelmente do ciclo, de modo que alguém tem que postular um catalizador específico que faça a distinção entre o ácido sucínico e o málico.”

9. Inspetores são necessários: As enzimas biológicas em células vivas são as especialistas em discriminar entre os substratos similares. O mesmo não pode ser tido como certo num ambiente prebiótico: “Alguém precisa, portanto, postular catalizadores altamente específicos para estas reações. É provável que tais catalizadores possam ser construídos por um químico sintético competente, mas questionável que eles possam ser encontrados entre os minerais que ocorrem naturalmente ou moléculas orgânicas prebióticas.”

10. Somente minerais não bastam: Superfícies de argila e outros substratos têm sido ingredientes popularesem cenários do ciclo metabólico. As reações necessárias podem ocorrer nessas mesas de laboratório naturais, eles dizem. Orgel discute dois cenários principais. “Embora os detalhes das duas propostas sejam diferentes, a dificuldade de atingir todas as reações exigidas enquanto se evita todas as prováveis reações laterais parece no mínimo tão formidável” nas duas.

11. Acenar pra chamar a atenção não basta: Orgel critica uma proposta recente feita por Wachtershauser que descreve a auto-organização através da “reprodução metabólica, evolução, e herança pela resposta do ligante.” Palavras que exigem muita atenção. “Infelizmente, ele nunca explica, mesmo em resumo, como este mecanismo conduziria à síntese dos nucleotídeos de aminoacil conjugados que parece ser uma característica essencial da proposta.”

12. Formose só não basta: “O único ciclo que tem sido experimentalmente demonstrado é a envolvida na reação da formose — a polimerização do formoldeído para dar uma mistura notoriamente complexa de produtos, inclusive a ribose, o componente orgânico da backbone do RNA.” Bem, talvez este deva ser o caminho a ser explorado! Na verdade, os pesquisadores têm explorado este caminho desde que foi descoberto no século 19th. Seria este o Cálice Sagrado das teorias da origem da vida? Não exatamente; a mistura deve ser adicionada de certas impurezas para começar, e “apesar de alguns êxitos, ainda não é possível canalizar a reação formose de tal maneira que produza ribose em quantidade substancial.”

A ribose, é claro, é um dos produtos necessários, mas mais difíceis produtos do RNA para se imaginar formando na Terra prebiótica — especialmente na presença de água. Os ciclos esperançosos propostos, infelizmente, produzem um punhado de produtos de reação imprestável.

13. Não basta ser simples: Orgel tem uma seção intitulada “Cycles and the Evolution of Complexity” [Ciclos e a evolução da complexidade]. Faz de conta que um ciclo comece. Isso não significa que a complexidade evoluirá. “Um ciclo... não parece ser capaz de evoluir em qualquer maneira interessante sem se tornar mais complexo.” Os cenários que sugerem uma quantidade substancial de “conteúdo de informação” emergirá de de um ciclo simples, com macromoléculas genéticas vindo mais tarde para adicionar estabilidade, não mais do que “intuições” — não são esquemas que podem ser examinados criticamente.

14. Variação só não basta: Sugerir que uma mudança na temperatura ou na concentração seja uma forma de evolução é um trocadilho. Por exemplo, “alguém não poderia afirmar vantajosamente que a dependência da taxa de uma reação como a hidrólise de ésteres em condições de reação seja uma forma de evolução.” Em algum ponto você terá que adicionar complexidade ao quadro. “A evolução de qualquer complexidade adicional substancial de um ciclo, portanto, deve depender da aposição de mais seqüências de reação àquelas presentes no ciclo importante.”

15. A lei da diminiuição dos lucros: “Dada a dificuldade de se encontrar um conjunto de catalizadores que sejam suficientemente específicos para capacitarem o ciclo original, é difícil ver como que alguém poderia esperar encontrar um conjunto capaz de capacitar dois ou mais conjuntos.” Quanto mais você obtém do ciclo simples original, mais os problemas aumentam. Orgel ouviu um punhado de cenários sugeridos, nenhum deles “explica como que uma família de ciclos complexos interconectados capazes de evolução poderiam surgir ou porque ele seria estável.”

Em vários parágrafos detalhistas, Orgel desmantela a proposta matemática de Kauffman de um ciclo peptídeo. [2] Muito mais interessante, até parece que Orgel lia o meu blog, são alguns comentários airosos, cutucando as fraquezas do oponente:

Pela fé: A descoberta de um ciclo possível que evolua seria uma grande descoberta, mas...

“O que é essencial, portanto, é uma descrição detalhada razoável, que seja auspiciosamente apoiada por evidência experimental, de como uma família de ciclos capazes de evoluir possa operar. O esquema não deve fazer exigências absurdas sobre a eficiência e especificidade dos vários catalizadores gerados externa e internamente que devem estar envolvidos. Sem tal descrição, a aceitação da possibilidade de organizações cíclicas complexas não-enzimáticas que são capazes de evolução somente pode ser baseada pela fé, uma rota notoriamente perigosa para o progresso científico.”

Por design inteligente: Catatau, meu! Orgel falou que você consegue resultados experimentais fantásticos se você adicionar design inteligente à equação:

“Ghadiri e seus colaboradores demonstraram experimentalmente que ciclos peptídeos do tipo conjeturado pela teoria de Kauffman são possíveis. Eles primeiro demonstraram que os peptídeos do tamanho 32 que foram cuidadosamente planejados para se auto-associarem na formação de espirais estáveis irão facilitar a ligação das suas subseqüências de terminais N e C. Isto mostra que a auto-replicação de peptídeos é possível. Em trabalho posterior, eles demonstraram a auto-organização de redes de reações ligantes quando mais do que dois inputs de peptídeos cuidadosamente planejados são usados. Contudo, essas descobertas não podem apoiar a teoria de Kauffman a menos que a síntese prebiótica específica do 15mer e do 17mer input de peptídeos dos aminoácidos monoméricos possa ser explicada. Do contrário, as experiências de Ghadiri ilustram o ‘design inteligente’ de input de peptideos, e não a auto-organização espontânea de aminoácidos polimerizantes.

Design inteligente??? Esta palavra ‘shibolet’ maldita caindo nos ouvidos da Nomenklatura científica??? Vai ver Orgel teve uma recaída epistêmica antes de morrer... Mas ele realça sua posição: essas longas cadeias necessárias para os ciclos autocatalíticos se formam espontaneamente? Em vários parágrafos ele vai explicar por que não. Numa de suas pequenas respostas, Orgel invocou palavras que soam como o critério de Dembski da complexidade especificada que detecta design na natureza: “Claramente, a auto-organização exige catalização que não é somente suficientemente eficiente, mas também seqüencial- específica suficientemente.”

Orgel pausa para se maravilhar de como a vida faz o que faz:

“As propriedades catalizadoras das enzimas são impressionantes. Elas não somente aceleram as taxas de reação em muitas ordens de magnitude, mas elas também fazem a distinção entre substratos potenciais que diferem muito levemente em estrutura. Alguém esperaria uma diferenciação semelhante no potencial catalítico de peptíeos de tamanho 10 ou menos? A resposta é nitidamente “não”, e é esta conclusão que defintivamente solapa a teoria do ciclo peptídeo.”

Alguns parágrafos adiante, Orgel considera tentativas de consertar a teoria de Kauffman. Bem, tentar Orgel tentou: “Mesmo que se tal sistema exista, a sua relevância para a origem da vida não está clara”, disse ele impiedosamente. “Portanto, é improvável que a teoria de Kauffman descreva qualquer sistema relevante para origem da vida.”

No parágrafo conclusivo de seu artigo, Orgel estabelece as regras que todos os pesquisadores da origem da vida devem obedecer: numa frase, sejam realistas!

“Considerando-se a importância do tópico, é essencial submeter as propostas de metabolizadores ao mesmo tipo de exame e crítica detalhadas que têm sido corretamente aplicadas às teorias genéticas.” Orgel se refere aqui às críticas feitas por Shapiro. Pelo menos os teóricos de genéticas, como ele, têm “um corpo substancial de trabalho experimental” em seus currículos.

Orgel, sem dó nem piedade epistêmicas, enfia os dedos nos olhos dos contadores de ‘estórias da carochinha’:

“Quase todas as propostas de ciclos metabólicos hipotéticos têm reconhecido que cada uma das etapas envolvidas deve ocorrer rapidamente o suficiente para que o ciclo tenha êxito no tempo disponível para sua operação. É sempre assumido que esta condição é encontrada, mas em nenhum caso foram apresentados os argumentos persuassivos apoiando-a. Por que alguém deveria acreditar que um conjunto de minerais que são capazes de catalizar cada uma das muitas etapas do ciclo reverso do ácido cítrico estav presente em toda parte na Terra primitiva, ou que o ciclo misteriosamente se auto-organizou topograficamente numa superfície de metal sulfídeo? A falta de um background apoiador em química é até mais evidente em propostas em que os ciclos metabólicos podem evoluir em complexidade do tipo ‘parecido com a vida’. O desafio mais sério para os proponentes das teorias de ciclo metabólico — os problemas apresentados pela falta de especificidade da maioria dos catalizadores não-enzimáticos — não tem, em geral, sido apreciado. Se tem, ele tem sido ignorado. As teorias da origem da vida baseadas em ciclos metabólicos não podem ser justificadas pela inadequação de teorias competidoras: elas devem ficar em pé por si mesmas.”

Orgel tentou suavizar um pouco a barra dos ‘contadores de estórias da carochinha’ da origem da vida, oops teóricos e pesquisadores da origem da vida, suavizando seu discurso com sugestões tipo ‘notas promissórias epistêmicas’ de que ciclos plausíveis poderão ser desocbertos um dia, por exemplo, ao redor de eventos hidrotermais, e que esses merecem mais investigação. “É importante entender” contudo, “que o reconhecimento da possível importância de sínteses prebióticas que poderiam ocorrer hidrotermicamente não necessita de uma crença de sua capacidade de se auto-organizar.”

Nas suas últimas palavras no parágrafo final de seu artigo, Orgel generalizou em relação a todas as teorias da origem da vida. Vocês precisam de blocos construtores puro para obtenção de polímeros que possam replicar-se. Vocês precisam peneirar o bom do mal nas misturas complexas que resultam das experiências. “Nenhuma solução do problema da origem da vida será possível até que a lacuna entre os dois tipos de química estiver fechada.”

Depois, ele enunciou as palavras mais contundentes direcionadas para toda a comunidade de pesquisadores da origem da vida:

“A simplificação de produtos de misturas através da auto-organização das seqüências de reação orgânica, se cíclica ou não, ajudaria enormemente, como seria a descoberta de polímeros replicadores muito simples. Contudo, as soluções oferecidas pelos defensores dos cenários geneticista ou metabolista que são dependentes na química hipotética “se os porcos podem voar” são improváveis de ajudar.”

NOTAS:

1. Leslie E. Orgel, “The Implausibility of Metabolic Cycles on the Prebiotic Earth,” Public Library of Science: Biology , 6(1): e18, Jan 22, 2008, doi:10.1371/journal.pbio.0060018.

2. O modelo de Kauffman depende nos peptídeos crescerem até certo comprimento que possam autocatalizar-se. Orgel mostra que fatores adicionais que seriam exigidos, reduzindo a plausibilidade desta hipótese, que é mais matemática do que experimental. Kauffman interpreta mal a termodinâmica da formação de ligação de peptídeos. Ele acha que os aminoácidos serão abundantes e irão formar espontaneamente polipetídeos longos. Orgel reclama, “Na prática, isso não aconteceria.” Na verdade, a necessidade de agentes de junção se torna um problema para todas as teorias da origem da vida que dependem na formação de polipeptídeos ou polinucleotídeos. O problema “somente poderia ser evitado pela proposição de uma série de monômeros, como os aminoaldeídos, que polimerizam espontaneamente, mas a dificuldade de se encontrar uma síntese prebiótica de monômeros adequados então se torna severa.”

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NOTA DESTE BLOGGER:

Eu ouso fazer aqui uma predição: a Nomenklatura científica nem vai ligar para este último artigo de Orgel, e se ligar, vai tentar considerá-lo ‘espúrio’ na sua autoria. Orgel, RIP, você saiu desta de maneira honrosa que somente dignifica o cientista: a busca pela verdade e seguir as evidências aonde elas forem dar. Você deu um choque de realismo na comunidade de pesquisadores da origem da vida. Eu, um historiador de ciência em formação, não vejo nenhuma luz epistêmica no túnel.

O blog foi extenso, os leitores que me perdoem por isso, mas é que a teoria da evolução orgânica é um capítulo importante sobre o qual repousa toda a Weltanschauung evolucionária da Nomenklatura científica. Além de dar um sonante ‘cala boca’ nos autores de livros-texto de Biologia do ensino médio e superior [há 50 anos continuam apresentando a experiência de Urey-Miller desacreditada há muito tempo], e na Grande Mídia que veicula a questão extremamente complexa da origem da vida como se fosse coisa extremamente simples. Alguém uma linha sobre este importante e devastador de Orgel na Grande Mídia tupiniquim? Eu não vi. E olha que ela tece loas e boas sobre as publicações de livre acesso como o PLoS.

A figura dos cientistas e dos jornalistas diante do público não especializado é uma de grande respeito. O cientista falou, tá falado. Na imprensa, o chamado 4º. Poder, quando o jornalista fala, tá falado. Mas a relação incestuosa da Nomenklatura científica e a Grande Mídia são responsáveis em enganar o grande público dando a impressão que os cientistas já tinham resolvido a questão da origem da vida. Orgel desnuda tudo isso. E na sua reprimenda duríssima para os que desprezam a expressão proibida ‘design inteligente’, Orgel sentenciou: vocês podem especular sobre porcos voadores, mas não ousem afirmar que estão fazendo ciência.

Senhores, Orgel conclama aos cientistas um retorno à realidade e ao espírito baconiano de fazer ciência: perguntar à natureza e seguir as evidências aonde elas forem dar.

Alô MEC/SEMTEC/PNLEM : A partir deste artigo-ultimato de Orgel sobre a origem da vida, não permitam mais que as especulações da evolução orgânica de Oparin-Haldane e a experiência de Urey-Miller constem na abordagem da evolução em nossos livros didáticos como sendo o ‘consenso científico’. Essas teorias podem ter plausibilidade lógica, mas no contexto da justificação teórica a plausibilidade química não se apresenta. São apenas ‘just-so stories’ [estórias da carochinha].

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Sob os ombros de dois gigantes: um nos Estados Unidos e um renomado pesquisador em universidade pública no Brasil (membro do NBDI).

A revisão por pares está dormindo em serviço!!!

Caçador de plágios

30/01/2008

Agência FAPESP — Plagiar artigos científicos é uma prática que pode estar com os dias contados. Pelo menos se depender da novidade que vem do Centro Médico da Universidade do Sudoeste do Texas [Dallas], nos Estados Unidos.

O grupo liderado pelo professor Harold Gardner desenvolveu um programa de computador que compara múltiplos documentos em bases de dados em busca de semelhanças no conteúdo. O software Etblast identifica a duplicação de palavras-chave e compara a proximidade e o encadeamento de palavras, entre outras variáveis.

A novidade oferece um método eficiente e rápido para conduzir buscas na literatura científica e permite aos editores de revistas identificar a ocorrência de práticas questionáveis de publicação. A ferramenta também é útil para pesquisadores que desejam verificar se e quando o tema do projeto em que estão trabalhando foi objeto de publicações anteriores, não apenas para ampliar o conhecimento, mas também para identificar possíveis colaboradores.

No desenvolvimento do Etblast, o grupo de Garner inicialmente usou o sistema para analisar mais de 62 mil textos publicados nos últimos 12 anos e disponíveis na base Medline, uma das principais na área médica. O software identificou que 0,04% dos textos com autores diferentes eram altamente semelhantes, em casos potenciais de plágio.

O número pode parecer significante, mas em uma base com 17 milhões de artigos representa cerca de 7 mil textos. O programa também identificou que 1,35% dos artigos com um ou mais autores iguais eram suficientemente semelhantes para serem considerados como publicações duplicadas dos mesmos dados, outra prática questionável. Os resultados foram descritos na edição de 15 de janeiro da revista Bioinformatics.

Na segunda fase do desenvolvimento, cujos resultados estão em comentário na edição de 24 de janeiro da Nature, o software foi aperfeiçoado e ganhou mais velocidade, tornando-se milhares de vezes mais rápido. Uma análise de 7 milhões de textos na Medline resultou em quase 70 mil artigos semelhantes.

“O plágio é a mais extrema e nefasta forma de publicação, mas submeter simultaneamente os mesmos resultados de pesquisas a diversos veículos ou repetir a publicação dos mesmos dados também podem ser considerados inaceitáveis em muitas circunstâncias”, disse Garner.

Mas o pesquisador lembra que, em relação a publicações repetidas, há algumas formas que podem ter valor para a comunidade científica. Um exemplo são atualizações dos progressos de estudos de longo prazo ou de análises longitudinais, que freqüentemente contêm reproduções literais de partes do texto original.

“Com nossa ferramenta, conseguimos identificar publicações semelhantes, mas nem o computador nem nós mesmos somos capazes de julgar se um artigo é um plágio. Essa tarefa cabe aos revisores, como os editores de publicações ou comitês de éticas das universidades, que são os grupos responsáveis para a determinação da legitimidade”, destacou Garner.

O pesquisador espera que o software possa ajudar a diminuir as práticas questionáveis na publicação científica. “À medida que ferramentas como o Etblast se tornarem mais conhecidas e usadas pelos editores e revisores durante o processo de submissão dos artigos, esperamos que o número de duplicações potenciais diminua consideravelmente”, disse.

O comentário A tale of two citations, de Mounir Errami e Harold Garner, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.
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Nota deste blogger:

Eu sou a favor sim da revisão por pares, oops, peer-reviewing é mais chique, mas sempre entendi também que o atual sistema tem outras funções alheias ao espírito científico: o sistema de ‘peer-reviewing’ é uma cancela blindando certas teorias científicas de críticas e é um forte componente na defesa da manutenção do paradigma, mesmo quando os guarda-cancelas, oops revisores sabem que determinadas teorias estão em profunda crise epistêmica no contexto de justificação teórica.

A situação kafkiana aqui é que eles, que praticam ‘ciência normal’ [Kuhn], assistem à mudança paradigmática meio perplexos, enfezados e revoltados em verem os ‘hereges’, que apontaram o rei nu, serem vindicados pelo acolhimento de suas teorias.

O comentário de Mounir Errami na Nature é preocupante: o índice de plágio nas publicações científicas é muito alto. Eu vou dar um desconto aqui para os revisores, porque a ciência explodiu em conhecimento e não dá mais para ninguém ter um saber enciclopédico. Somos especialistas mínimos, que fazemos afirmações grandiosas sobre tudo, e não sabemos nada???

Pro bonum scientiae, o programa de computador de Garner et al é mais do que bem-vindo.

Ah, ia me esquecendo, a utilização teleológica do software Etblast é uma nítida aplicação do design inteligente na busca e detecção de sinais de inteligência... Aqui no caso, de ‘inteligência não otimizada’... E ainda dizem que o design inteligente é pseudociência...

O texto de Errami e Garner se encontra numa ‘zona de acesso livre’ da Nature e pode ser baixado gratuitamente aqui.

Explicando a ciência do Design Inteligente

terça-feira, janeiro 29, 2008

Destaco para os meus mais de 100.000 leitores a inclusão de mais um link de site (em inglês) preferido. Este é voltado exclusivamente para explicar a ciência do Design Inteligente: Explaining the Science of Intelligent Design

Façam uma visita, e divulguem entre seus amigos e demais pessoas interessadas na controvérsia “Darwin vs Design”, e saber mais sobre a ciência do Design Inteligente de seus teóricos e proponentes em vez da visão distorcida passada pela Nomenklatura científica e a Grande Mídia.

Bon voyage!

A USP promoverá grande conferência sobre Darwin em 2009

segunda-feira, janeiro 28, 2008

XIII Sao Paulo Research Conference
Darwin e “A origem das Espécies”, 150 anos depois
20 — 22 de Agosto de 2009
USP

“Darwin 2009”, em comemoração aos 150 anos do livro “A origem das espécies”

Os detalhes desta conferência ainda não estão disponibilizados no site da Eventus.

O objetivo da X São Paulo Research Conference – “Origens da Vida” é reunir especialistas de áreas tão distintas para discutirem os pontos de vistas modernos, bem controversos, sobre as origens da vida.

Será que este também será o objetivo da “Darwin 2009”? Será que especialistas de áreas distintas discutirão os pontos de vistas modernos, bem controversos da teoria da origem das espécies pela seleção natural (e outros mecanismos evolutivos)?

Uma pergunta apropriada para o ambiente acadêmico da conferência: um teórico e proponente da teoria do Design Inteligente como Michael Behe, William Dembski, Paul Nelson, Steve Meyer ou Jonathan Wells poderia apresentar a palestra “Darwin vs Design”?

Afinal de contas, a teoria da evolução de Darwin do século 19 é um longo argumento contra o design, e a teoria do Design Inteligente é um ponto de vista moderno bem controverso em contraposição a Darwin.

Com a palavra o Dr. Prof. Boris Vargaftig, a Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, e o comitê de especialistas daquela conferência.

Sem dúvida que eles seguirão a proposição de Darwin de se discutir as suas idéias:

“Estou bem a par do fato de existirem neste volume pouquíssimas afirmativas acerca das quais não se possam invocar diversos fatos possíveis de levar a conclusões diametralmente opostas àquelas às quais cheguei. Uma conclusão satisfatória só poderá ser alcançada através do exame e confronto dos fatos e argumentos em prol deste ou daquele ponto de vista, e tal coisa seria impossível de se fazer na presente obra.” Introdução do Origem das Espécies (1859), p. 36 (Ênfase adicionada).

Além disso, F. C. S. Schiller, erudito da Oxford University, no artigo intitulado “Darwinism and Design Argument” de 1897, afirmou que “não será possível excluir a suposição de que o processo da Evolução possa ser guiado por um design inteligente”.

A universidade é o local mais apropriado para o debate de idéias. Inclusive de idéias controversas. A USP é o local mais adequado para esta invocação de diversos fatos possíveis de levar a conclusões diametralmente opostas à de Darwin. Segundo Schiller, não é possível discutir Darwin sem discutir a questão de Design.

Isso não deslustrará em nada o evento comemorativo, pelo contrário, tão-somente honrará a liberalidade epistêmica proposta por Darwin para a discussão de suas idéias evolutivas.

“Dois minutos de ódio” contra o Design Inteligente e seus teóricos e proponentes

domingo, janeiro 27, 2008

Considerando-se alguns comentários impensados enunciados em palestras e artigos de cientistas membros da Nomenklatura científica, mais a atitude antagônica da Grande Mídia contra a teoria do Design Inteligente, seus teóricos e proponentes, eu remeto meus leitores para dois autores do século 20 bastante interessantes. Eu chamo atenção especial para o conceito de “dois minutos de ódio” que George Orwell retratou no seu famoso livro “1984”, e para o artigo “Return of the Hopeful Monster” [Retorno do monstro esperançoso] de Stephen Jay Gould que, coincidentemente, foi publicado em 1980.

Fala Gould: “Big Brother, o tirano do livro “1984” de George Orwell, dirigia o seu programa diário “Dois minutos de ódio” contra Emmanuel Goldstein, inimigo do povo. Já Richard Goldschmidt, famoso geneticista, que por suas posições evolutivas heterodoxas recebia advertência e escárnio oficiais.”

Pelo andar da carruagem, quando algumas críticas científicas sobre algumas teorias são objetos de censura, escárnio e perseguição pelo pensamento desviante, eu acho que o clima de “1984” é que insufla este comportamento irracional da Nomenklatura científica: Big Brother está no controle, e os de discurso desviante devem ser execrados e perseguidos, sem dó nem piedade epistêmica.

Gould tinha esperança que Goldschmidt fosse vindicado em grande parte no mundo da biologia evolutiva.

Continue falando Gould:

“Goldschmidt, um judeu refugiado da dizimação de Hitler da ciência alemã, passou o resto de sua carreira acadêmica em Berkeley, onde faleceu em 1958. Suas opiniões sobre a evolução bateram de frente com a grande síntese neodarwinistas forjada durante as décadas de 1930 e 1940, e continua hoje como reinante, se não insegura, ortodoxia.

Eu quero argumentar que os defensores da teoria sintética fizeram uma caricatura das idéias de Goldschmidt ao estabelecerem-no como o seu saco de pancadas. Eu não irei defender tudo que Goldschmidt disse; na verdade, eu discordo fundamentalmente de sua afirmação de que a macroevolução abrupta desacredita o darwinismo.”

O artigo de Gould merecido ser lido à luz de nossa realidade midiática tão subserviente da Nomenklatura científica. Há quase 30 anos Gould deu uma puxada de orelha num livro-texto de Biologia importante que enganosamente “expressa sua fidelidade à posição convencional” do Partido, oops da Nomenklatura científica.

No meio dessa nossa conversa séria e preocupante, sem mais nem menos, entra Orwell no meio, e contundente disse: “Goldstein estava fazendo o seu ataque venenoso costumeiro sobre as doutrinas do Partido — um ataque tão exagerado e perverso que uma criança seria capaz de compreendê-lo, e mesmo assim tão plausível bastante para encher alguém de sentimento alarmado que outras pessoas, menos criteriosas do que si mesmo, podem ser enganadas por isso. Ele estava ofendendo o BIG BROTHER, ele estava denunciando a ditadura do Partido, ele estava exigindo a conclusão imediata de paz com a Eurásia, ele estava defendendo a liberdade de expressão, liberdade da Imprensa, liberdade de reunião, liberdade de pensamento, ele estava clamando histericamente que a Revolução tinha sido traída...

Antes que o Ódio tivesse continuado por trinta segundos, exclamações de ódio incontroláveis estavam partindo da metade das pessoas que estavam na sala. O rosto tipo ovelha auto-satisfeita na tela, e o poder aterrorizante do exército eurasiano por detrás disso, eram demais para serem suportados: além da opinião ou até o pensamento de Goldstein produzia automaticamente medo e raiva...

Mas o que era estranho era que, embora Goldstein fosse odiado e desprezado por todos, ainda que cada dia e milhares de vezes ao dia, em plataformas, na telinha da televisão, em jornais, em livros, as suas teorias eram refutadas, estraçalhadas, ridicularizadas, mostradas para o olhar em geral pela desprezível tolice que elas eram — apesar de tudo isso, a sua influência nunca parecia diminuir. Sempre havia novos ingênuos esperando para serem seduzidos por ele.

Nunca passou um dia quando espiões e sabotadores agindo sob suas ordens não eram desmascarados pela Polícia de Pensamento. Ele era o comandante de um vasto exército desconhecido, uma rede subterrânea de conspiradores dedicados a derrubar o Estado...

No seu segundo minuto o Ódio atingiu um frenesi. As pessoas estavam pulando em seus lugares, e aos gritos mais altos num esforço de abafar o balir da voz enloquecedoura que vinha da tela da televisão... A coisa horrível sobre os Dois Minutos de Ódio não era que alguém fosse obrigado encenar uma parte, mas, ao contrário, que era impossível evitar não se juntar. Um êxtase hediondo de medo e vingança, um desejo de matar, de torturar, de estraçalhar violentamente os rostos com um martelo de forja, parecia fluir através de todo grupo de pessoas como uma corrente elétrica, transformando alguém até mesmo contra a sua vontade em um lunático fazendo caretas e dando gritos estridentes...”

Poxa, Gould, Orwell, como é que vocês e o Enézio conseguem ver nitidamente as ações do establishment científico, oops da Nomenklatura científica, como análogas ao Big Brother? E das reações irracionais dos meninos e meninas da galera de Darwin na internet contra os de discurso heterodoxos? Orwell, será que o seu personagem Emmanuel Goldstein, não se parece muito com o Michael Behe e o movimento vil e perigoso do Design Inteligente?

Se a frase “estraçalhar violentamente os rostos com um martelo de forja” lhe pareça familiar, talvez você esteja se lembrando do que P. Z. Myers, do blog Pharyngula [1] disse: chegou a hora de os darwinistas baterem nos críticos de Darwin, sem dó nem piedade, com os bicos metálicos de suas botas...

É, Orwell, eu acho que vou mudar meu nome para Enézio Goldstein...

NOTA:

1. O blog do P. Z. Myers foi considerado o blog # 1 de ciência no mundo, e recebeu elogios de publicações científicas e destaque na seção de ciências da Folha de São Paulo.

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Blog visto sobre os ombros de um gigante que me indicou as leituras.

Marcos Sá Corrêa: a diatribe do jornalista “leão” perrengue e estrábico

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Mais uma vez eu vou fazer aqui o papel do Advogado do Diabo dos criacionistas, mas por uma questão da defesa de um direito constitucional da livre expressão de pensamento.

Uma busca no Google por Marcos Sá Corrêa demonstra que o artigo “A ministra e o criacionismo” é mais um na linha persecutória que o jornalista segue tentando desestabilizar e destruir a carreira política da ministra Marina Silva, mulher guerreira que chegou onde está através de seus próprios méritos.
Destacado no JC E-Mail, órgão voltado para divulgação científica da SBPC, de 23/01/2008.

Defendo tenazmente o direito da livre expressão de Sá Corrêa, que não defende a livre expressão de uma ministra, mas esta sua “fixação” gratuita pela ministra Marina Silva revela uma profunda inveja e ódio puros por uma pessoa e por sua subjetividade religiosa. Isso é extremamente perigoso numa sociedade democrática plural: a inquisição sem fogueiras dos diferentes. Leia-se, os 35 milhões de evangélicos.

Em nome de uma suposta defesa do estado laico matizada por um profundo naturalismo filosófico pós-moderno, fundamentalista, chique e perfumado a la Dawkins, Sá Corrêa investe e distila ferozmente neste artigo o seu veneno de naja contra uma mulher que, segundo ele, “entrou em rota de colisão com Darwin” num “urgente debate do século 19”.

Leda ignorância do jornalista sobre assuntos científicos: quem entrou em rota de colisão com Darwin, não foi a ministra Marina Silva, foram as evidências encontradas na natureza. Elas se recusam terminantemente corroborar as especulações transformistas de Darwin.

O debate não é um do distante século 19 como asseverou Sá Corrêa. Ele continua vivo até hoje. Em pleno século 21, a teoria de Darwin do século 19, apesar de remendada no século 20 pelo neodarwinismo não consegue explicar no contexto da justificação teórica estas três questões epistêmicas fundamentais para o estabelecimento de quaisquer teorias da evolução:

A. Questões de Padrão, diz respeito à grande escala geométrica da história biológica: Como os organismos são inter-relacionados, e como que nós sabemos isso?

B. Questões de Processo, diz respeito aos mecanismos de evolução, e os vários problemas em aberto naquela área, e

C. Questões sobre a questão central: a origem e a natureza da complexidade biológica  a “complexidade biológica” diz respeito à origem daquilo que faz com que os organismos sejam claramente o que são: complexidade especificada da informação biológica.

Sá Corrêa é completamente ignorante destes aspectos epistêmicos fundamentais. Se soubesse, não teria escrito tanta bobagem sobre esta controvérsia não resolvida.

A Lei de Diretrizes Básicas (LDB) 9.394/96 preconiza no Art. 35, I, III que o ensino médio tem entre suas finalidades habilitar o educando a ser capaz de continuar aprendendo, a ter autonomia intelectual e pensamento crítico. Sá Corrêa e a Nomenklatura científica não desejam nada disso.

Os atuais PCNs do Ensino Médio, nas suas Diretrizes Curriculares Nacionais (Competências e Habilidades das Ciências Naturais) afirmam que o currículo deve permitir ao educando “compreender as ciências como construções humanas, entendendo que elas se desenvolvem por acumulação, continuidade ou ruptura de paradigmas...” e que “a ciência não tem respostas definitivas para tudo, sendo uma de suas características a possibilidade de ser questionada e de se transformar”.

Como educadora, a ministra Marina Silva ao defender um programa de “educação plural” que trate o evolucionismo [N. do blogger: as palavras terminadas em –ismo denotam doutrinas ideológicas] apenas como “mais um olhar” sobre a história natural, está bem acordo com a visão educacional sugerida à Unesco por Edgar Morin, francês, um dos maiores filósofos contemporâneos, escreveu o livro Os sete saberes necessários à educação do futuro. Mesmo sendo academicamente evolucionista, na sua sugestão para a educação do futuro, Morin assim se expressou:

"As ciências permitiram que adquiríssemos muitas certezas, mas igualmente revelaram, ao longo do século XX, inúmeras zonas de incerteza. A educação deveria incluir o ensino das incertezas que surgiram nas ciências físicas (microfísica, termodinâmica, cosmologia), nas ciências da evolução biológica e nas ciências históricas". [1]

O jornalista perrengue e estrábico é contra tudo isso! Quem é o verdadeiro defensor do obscurantismo? Eu acho que o Brasil deu azar de não ter Marina Silva como ministra da Educação. Por quê? Porque a “multiplicidade de olhares” traduz corretamente o conhecimento humano “transdisciplinar”. Não querer esta “multiplicadade de olhares” é querer blindar algumas teorias científicas das críticas, até mesmo as científicas.

A analogia de “no meio ambiente” e “no ministério do meio ambiente” é gratuitamente grotesca, mas demonizadora: os animais inferiores e até os vírus não pensam, mas a ministra Marina Silva, por ser evangélica, é extremamente “perigosa” por ter se convencido de que até agora, os cristãos só levaram ao pé da letra o preceito bíblico que os convida a “dominar a terra e tudo o que nela há”.

A “irracionalidade” da ministra foi sugerir que os cristãos assumam sua vocação de ser “sal da terra e luz do mundo”, obedecendo as prescrições “muito detalhadas” que a Bíblia recomenda “não matar a ave que está no ninho com filhote” ou “não destruir a floresta” na hora de arrasar uma cidade. Onde está o “perigo” e a “irracionalidade” desta recomendação, cara-pálida?

Ao comentar sobre o bestiário bíblico pinçando alguns exemplos de bestas que lhe convinha para jogar os leitores contra a ministra Marina Silva, pode se ver que o olhar da hermenêutica [será que Sá Corrêa sabe o que é isso? Adianto para ele que não é “comida impura” do cardápio francês] fez bastante falta aqui.

Segundo o “olhar hebraico” sobre a realidade, as impurezas de alguns animais até hoje são confirmadas pela ciência de que é melhor a abstenção deles no seu cardápio, principalmente para um povo que viveu muito tempo peregrinando no deserto e sem as profilaxias necessárias para permitir sua sobrevivência em ambiente hostil. Quanto às demais figuras de linguagem, elas existem em qualquer boa literatura que se preze. Até nos livros sagrados das concepções religiosas.

Sá Corrêa pode ficar descansado e dormir o seu profundo sono filosófico-naturalista a la Dawkins: essas classificações da fauna não estão em vigor no Ministério do Meio Ambiente. Se a ministra usou a águia e a relacionou como metáfora de sua resistência às armadilhas do governo contra seu ministério — resistindo “como a águia, que tem de quebrar o bico na pedra, arrancar penas e unhas, para nascer nova unha, novo bico”, ela não cometeu gafe como Sá Corrêa maldosamente lhe atribui tão-somente por não existir águia no Brasil.

Se formos seguir esta “pureza lingüística” a la Aldo Rebelo, Sá Corrêa, jornalista, não pode ser comparado como tendo a coragem de um “leão” nas suas diatribes perrengues e estrábicas: é que no Brasil não existe leão. O primo mais próximo é a onça.

Sá Corrêa pode ficar tranqüilo e sair de sua TPM [Tensão Provocativa de Ministras] que no Ministério do Meio Ambiente a Bíblia, o Alcorão, o Bhagavad Gita, o Adih Granth ou qualquer outro texto sagrado não são considerados tratados de ecologia. São mapas, apenas mapas. Regras de fé e prática.

O melhor caminho que a ministra tem para preservar a sua fé cristã evangélica, não é o sugerido por Sá Corrêa. O melhor caminho que Marina Silva tem é perseguir tenazmente não lançar a sua pérola entre os porcos.

Nota do blogger: As palavras perrengue e estrábico usadas no título descrevem alguém teimoso e birrento, com uma maneira errada, defeituosa de ver, de julgar, e de raciocinar [Aurélio].

O discurso “Novilíngua” de Niles Eldredge, curador da exposição Darwin – Rio

A entrevista de Niles Eldredge, curador da exposição Darwin no mundo inteiro concedida a Carlos Albuquerque [“O Globo”, de 23/01/2008] foi publicada com livre acesso no JC E-Mail 3436, de 23 de janeiro de 2008. Um verdadeiro exercício de "Novilíngua".

Nesta nova viagem de Darwin ao Rio, “Darwin — Descubra o Homem e a Teoria Revolucionária que Mudou o Mundo”, Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, é a maior exposição já feita sobre o naturalista inglês.

A entrevista de Eldredge com o jornalista de “O Globo” foi precedida pelo parágrafo tradicional de louvaminhice, de beija-mão, beija-pé de Darwin encontrado não somente na Grande Mídia, mas até em publicações e artigos científicos: Darwin é considerado “o pai da biologia moderna”. Os historiadores de ciência ficam arrepiados com esta afirmação inexata, pois a tese não se sustenta historiograficamente: como que Darwin é “o pai da biologia moderna” se suas hipóteses transformistas entraram logo em fragoroso eclipse em 1875-1925? [1]

Será mesmo que Charles Darwin continua evoluindo? Será que quase 200 anos depois do seu nascimento, as idéias do naturalista inglês, permanecem sendo discutidas e revistas? Discutidas, sim, revistas, sim e não.

A teoria da evolução de Darwin, do século 19, pelas limitações dos recursos tecnológicos disponíveis, desconhecia completamente a complexidade de uma célula e de outros sistemas biológicos de complexidade irredutível, e da transmissão das características genéticas. Aí veio o upgrade teórico Darwin 2.0: o neodarwinismo.

A discussão das idéias de Darwin continua sendo feita sob a ótica de “Darwin locuta, evolutio finita”. As revisões, como o neodarwinismo, embora tenha incorporado a genética mendeliana, são tentativas ad hoc de salvar o paradigma darwiniano do total colapso epistêmico. O neodarwinismo é um paradigma científico morto, e a Nomenklatura científica vai ter que elaborar uma nova teoria da evolução que atenda aos avanços científicos do século 20 e 21.

A exposição Darwin chega ao Rio de Janeiro adaptada para celebrar a passagem pela cidade em 1832, a bordo do navio H.M.S. Beagle, após a qual elaborou a maior parte de suas teorias.

Darwin ficou impressionado com a beleza da cidade maravilhosa. Subjetividades estéticas à parte, Niles Eldredge, paleontólogo americano e curador dessa mostra internacional, começa a dourar a pílula a favor de Darwin: sendo de uma família liberal, ele se assustou ao se deparar com a escravidão no Brasil. A polarização liberal e conservador de Eldredge é ingênua. E se Darwin viesse de uma família conservadora, ele não teria se assustado com isso?

Eldredge se esquece, intencionalmente (?), que muito antes de Darwin, William Wilberforce (1759-1833) em 28 de outubro de 1787 se propôs e conseguiu abolir o comércio de escravos, após muitos anos de luta, em todos os territórios do império da Grã-Bretanha de Charles Darwin. Intencionalmente Eldredge se esquece que no outro livro The Descent of Man, Darwin esposa a eliminação de raças inferiores pelas raças superiores. Isso está nesta exposição? Eu não vi na de São Paulo.

Organizada em 2005 pelo Museu de História Natural, de Nova York, a exposição de louvaminhice, e cheia de erros históricos, já passou pelos Estados Unidos e pelo Canadá e vai chegar à Inglaterra em 2009 para, não por acaso, coincidir com as comemorações mundiais do bicentenário do cientista e dos 150 anos de publicação de sua obra mais importante, o livro “A origem das espécies”, que deu origem à sua teoria da evolução. [2]

Como era de se esperar, Niles Eldredge ‘cutuca’ a teoria do Design Inteligente, uma teoria científica que se contrapõe a algumas hipóteses transformistas de Darwin. Sim, “é impressionante notar como ele está no centro dos debates ainda hoje”, mas só que noutro patamar: Darwin senta agora no banco dos réus no contexto da justificação teórica.

Ao afirmar que Eldredge sabe o que está falando, o jornalista Carlos Albuquerque viajou na maionese. As idéias evolucionistas de Darwin têm sido contestadas não somente nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro. O próprio Eldredge criticou Darwin no melhor estilo baconiano baseado nas evidências encontradas nas suas pesquisas paleontológicas.

Niles Eldredge (Curador de Invertebrados no Museu Americano de História Natural) e Stephen Jay Gould a elaborarem nos anos 70 do século 20 um novo modelo de mudança evolutiva chamado de equilíbrio pontuado:

“A extrema raridade de formas transicionais no registro fóssil persiste como o negócio secreto da paleontologia. As árvores genealógicas que adornam nossos livros-texto têm dados somente nas extremidades e nódulos de seus galhos; o resto é inferência, por mais que razoável, não é a evidência dos fósseis... Eu não quero de nenhuma maneira impugnar a validade potencial do gradualismo. Eu somente quero destacar que isso nunca foi ‘visto’ nas rochas”.[3]

O que antes era o negócio secreto da paleontologia Gould tornou público:

“... a história da maioria dos fósseis das espécies inclui duas características inconsistentes com o gradualismo: (1) Estase. A maioria das espécies não exibe mudança direcional durante a sua existência na Terra. Elas aparecem no registro fóssil parecendo muito semelhantes quando desapareceram; a mudança morfológica parecendo muito semelhantes quando desapareceram; a mudança morfológica geralmente é limitada e sem direção. (2) Surgimento abrupto. Em qualquer área local, uma espécie não surge gradualmente pela transformação constante de seus ancestrais; ela aparece de uma vez e ‘plenamente formada’”. [4]

A proposta do equilíbrio pontuado de Eldredge e Gould foi uma solução revolucionária e conservadora. Modestamente revolucionária porque, contra Darwin, argumentavam que a porção significante da evolução não ocorre na transformação gradual de populações grandes e centrais, mas rapidamente em saltos evolutivos nas populações pequenas e isoladas em milhares de anos em vez de milhões de anos.

Com a teoria do equilíbrio pontuado de Eldredge e Gould tornou mais fácil elaborar um caso cogente contra a macroevolução, embora isso não fosse a idéia que eles quiseram encorajar. O reconhecimento desta anomalia significante  a descontinuidade das formas biológicas  iniciou um processo conceitual de crise kuhniana na biologia evolutiva.

Por que Eldredge deixou de fora nesta exposição a sua crítica devastadora a Darwin, o pai da biologia moderna??? Gould, onde estiver, você deve estar profundamente envergonhado com este exercício de beija-mão, beija-pé de Darwin por Eldredge! As evidências, ora, que se danem as evidências, o que vale é a primazia de Darwin no Reino da evolução [Dobzhansky no Brasil].

A Nomenklatura científica e a Grande Mídia é que unilateralmente passam a idéia para o resto da sociedade de que epistemicamente tudo vai bem como antes no quartel de Abrantes, oops, de Darwin. Nada mais falso. O neodarwinismo vai ser substituído por outra teoria.

Mais grave ainda é a mentira deslavada de Carlos Albuquerque ao afirmar que sob as bênçãos do governo de George W. Bush, escolas públicas de alguns estados americanos têm se dedicado ao ensino do chamado design inteligente. Nada mais despudoramente falso e abjeto. Eu não sei onde este moço estudou jornalismo, mas ele não mencionou quais escolas públicas americanas que estão se dedicando ao ensino do design inteligente. Só se for nas escolas confessionais.

Nós teóricos e proponentes da TDI somos contra seu ensino, não porque ela seja uma “controvertida teoria pseudocientífica que defende a idéia de um projetista”, mas porque a TDI ainda não foi apreciada devidamente na sua plausibilidade científica pela comunidade científica.

Carlos Alberto, você precisa ler mais as obras dos teóricos do Design Inteligente como Michael Behe, William Dembski, Jonathan Wells, Stephen Meyer, Paul Nelson, David Berlinski (tem livro publicado aí pela sua editora Globo), e você verá que a TDI é uma teoria científica minimalista afirmando que certos eventos no universo e no mundo biótico são melhor explicados por causas inteligentes e que elas são empiricamente detectadas na natureza todas as vezes que a complexidade irredutível de sistemas biológicos e a informação complexa especificada forem encontradas.

Mais patética e vergonhosa é a resposta mentirosa de Eldredge. Questionar uma teoria científica pode ocorrer não somente nos Estados Unidos, mas em qualquer parte do mundo. Ele sabe que não existe Theoria perennis em ciência. A preocupação dele é um gigantesco descompasso com a verdade dos fatos. Lá nos Estados Unidos desde a decisão da Suprema Corte americana a única teoria científica sobre a origem e evolução das espécies que pode ser ensinada nas escolas americanas é a teoria da evolução de Darwin.

Não por força das evidências, mas por força de uma decisão jurídica [desde quando um juiz tem competência para dizer o que é e o que não é ciência???] em 1984, Eldredge, pode ficar sossegado, mas Darwin reina perene nas escolas públicas americanas. Não ensinar a controvérsia, não ensinar as evidências a favor e contra Darwin, isso sim é que é patético e vergonhoso, porque estão ensinando a evolução de forma errada para as crianças. Isso é um grande descompasso com a verdade das evidências.

No final, Eldredge foi patético, para não dizer extremamente simplório, de que se não fosse Darwin não poderíamos entender e estudar doenças como a gripe aviária e a Aids. Vou deixar para os criacionistas, que respondam ao Eldredge o que eles acham desse argumento ridículo sobre a seleção natural: é tão-somente uma evidência de microevolução. Os vírus continuam vírus...

Cadê a macroevolução que estava em Darwin, o pai da biologia moderna? O gato das evidências comeu no contexto da justificação teórica!

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A Exposição Darwin que percorre o mundo tem fatos históricos e epistêmicos distorcidos em muitas instâncias. Vide aqui, aqui e aqui.

Está faltando a quarta parte desta série sobre o descompasso com a verdade histórica que será brevemente publicada aqui.

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NOTAS

1. BOWLER, Peter J. Evolution: The History of an Idea. 3ª. ed. revisada e expandida, Berkeley, University of California Press, 2003, pp. 224-273.

2. Ao contrário do que é divulgado, “Origem das Espécies” não é livro, mas um longo abstract.

3. GOULD, Stephen Jay. The Panda’s Thumb. Nova York, W. W. Norton, 1980.

4. Ibid, in The episodic Nature of Evolutionary Change, p. 182.

EXTRA! EXTRA! 100.000 visitantes em 2 anos

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Hoje é um dia muito especial para este blogger: atingimos a marca de 100.162 visitantes em apenas dois anos de existência. Muito obrigado a todos os visitantes: professores, pesquisadores, alunos de universidades públicas [a USP ganha disparado, e a UFMG e a UFRGS vêm em segundo lugar] e privadas, e jornalistas da Grande Mídia [especialmente da Folha de São Paulo e o G1, da Globo], e a minha querida galera dos meninos e meninas de Darwin. Sem vocês, eu não teria alcançado esta marca histórica.



Vide registro de 100.162 visitantes no mundo inteiro aqui.

Quais as razões para o expressivo número de visitantes? A primeira e a mais importante: a supressão da discussão aberta e livre nas universidades e na Grande Mídia das dificuldades epistêmicas fundamentais das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida.

A segunda, é a apresentação da teoria do Design Inteligente que a Nomenklatura científica considera como pseudociência, mas até hoje não falsificou a tese da complexidade irredutível dos sistemas biológicos [Behe] e que a Grande Mídia apresenta de forma distorcida, mas nunca abriu espaço para seus teóricos e proponentes.

Tudo que você queria saber sobre a falência do paradigma darwiniano, a dissensão científica a Darwin, e a presença da teoria do Design Inteligente há mais de uma década que Nomenklatura científica desdenha, e a Grande Mídia internacional e nacional não querem que você saiba está aqui.

Invoco o ‘espírito’ liberal de Darwin para demonstrar que tanto a Nomenklatura científica e a Grande Mídia brasileira estão prestando um tremendo desserviço à ciência ao sonegarem as informações sobre o status epistêmico do neodarwinismo, e não considerarem a plausibilidade científica da teoria do Design Inteligente por razões totalmente espúrias e contrárias ao espírito científico:

“Estou bem a par do fato de existirem neste volume pouquíssimas afirmativas acerca das quais não se possam invocar diversos fatos passíveis de levar a conclusões diametralmente opostas àquelas às quais cheguei. Uma conclusão satisfatória só poderá ser alcançada através do exame e confronto dos fatos e argumentos em prol deste ou daquele ponto de vista, e tal coisa seria impossível de se fazer na presente obra”. [1]

Aqui neste blog nós ‘invocamos’ esses vários fatos passíveis de levar a conclusões diametralmente opostas àquelas às quais Darwin chegou. Uma conclusão satisfatória somente será alcançada aceitando a proposição de Darwin: “através do exame e confronto dos fatos e argumentos em prol deste ou daquele ponto de vista”.

A ciência e a mentira não podem andar de mãos dadas, pois a ciência é a busca da verdade!

Fui, feliz da vida com os 100.000 visitantes deste blog no mundo inteiro.

Muito obrigado!!!

NOTA

1. DARWIN, Charles R. Origem das Espécies. Trad. Eugênio Amado. Belo Horizonte/Rio de Janeiro, Villa Rica, 1994, p. 36

Os mesmos descompassos com a verdade histórica sobre Darwin no Rio de Janeiro

Neste blog denunciei vários descompassos com a verdade histórica da exposição Darwin no MASP em 2007. Agora esta exposição historicamente espúria está sendo apresentada no Rio de Janeiro.

JC E-Mail 3436, de 23 de janeiro de 2008
5. A nova viagem de Darwin
Maior exposição já feita sobre o naturalista inglês, autor da teoria da evolução, chega ao Rio

Carlos Albuquerque escreve para “O Globo”:

Charles Darwin continua evoluindo. Quase 200 anos depois do seu nascimento, as idéias do naturalista inglês, considerado o pai da biologia moderna, permanecem sendo discutidas e revistas. Prova disso é a exposição “Darwin — Descubra o Homem e a Teoria Revolucionária que Mudou o Mundo”, que começa hoje, no Museu Histórico Nacional, depois de ter passado por São Paulo, onde foi visitada por 175 mil pessoas no segundo semestre de 2007.

Passagem pela cidade foi em 1832

É a volta de Darwin à cidade que visitou em 1832, durante a sua famosa viagem pelo mundo, a bordo do navio H.M.S. Beagle, após a qual elaborou a maior parte de suas teorias. Fazendo jus ao homenageado, a exposição chega aqui adaptada.

— Nós ampliamos a parte da exposição que trata da sua passagem pelo Brasil, já que foi um trecho importante de sua viagem — explica o paleontólogo americano Niles Eldredge, curador da mostra. — Como todos, ele ficou impressionado com a beleza da cidade. Porém, cocomo vinha de uma família liberal, se assustou ao se deparar com a escravidão no Brasil. E também não gostou da burocracia que disse ter encontrado por aqui.

Organizada em 2005 pelo Museu de História Natural, de Nova York, a exposição passou pelos Estados Unidos e pelo Canadá e vai chegar à Inglaterra em 2009, para coincidir com o bicentenário do cientista e os 150 anos de publicação de sua obra mais importante, o livro “A origem das espécies”, que deu origem à sua teoria da evolução.

— A idéia da exposição era mesmo coincidir com os 200 anos do nascimento de Darwin. Mas resolvemos começar um pouco mais cedo e viajar o mundo com ela, como fez Darwin — conta Eldredge.

Curador critica design inteligente

Mais completa revisão do trabalho de Darwin, a mostra tem cerca de 400 itens em exposição, entre documentos, filmes, livros e reprodução de espécies estudadas pelo naturalista inglês, como sapos, iguanas, tatus e orquídeas. A exposição recria também o quarto onde Darwin fazia seus estudos e onde finalizou “A origem das espécies”.

— O mais fascinante de organizar essa exposição foi ver como Darwin desenvolveu suas idéias de forma criativa — lembra o paleontólogo. — De resto, é impressionante notar como ele está no centro dos debates ainda hoje.

Eldredge sabe o que está falando. Afinal, as idéias evolucionistas de Darwin têm sido contestadas nos Estados Unidos. Sob as bênçãos do governo de George W.
Bush, escolas públicas de alguns estados americanos têm se dedicado ao ensino do chamado design inteligente, controvertida teoria pseudocientífica que defende a idéia de um projetista.

— Isso é patético e me sinto envergonhado que ocorra ainda hoje nos Estados Unidos — reclama Eldredge. — O que me preocupa é que não apenas estão ensinando a evolução de forma errada para as crianças, mas estão dizendo para elas que o criacionismo é uma alternativa. Isso é uma mentira.

Eldredge ressalta que se não fosse Darwin não poderíamos entender e estudar doenças como a gripe aviária e a Aids.

— Ambos têm a ver com a evolução de vírus. Darwin foi o ponto de partida para sabermos como funciona a seleção natural e a mutação. Aliás, é sempre interessante perguntar aos criacionistas o que eles acham disso.

Segundo o paleontólogo, é um divertido exercício de imaginação imaginar o que Darwin pensaria da exposição se estivesse vivo.

— Acho que ele ficaria inicialmente um pouco embaraçado com a homenagem, já que era um homem bastante modesto. Mas tenho certeza que depois Darwin iria direto à parte da exposição que fala de biologia evolutiva. E no final ficaria encantado com tudo.
(O Globo, 23/1)

O editorial da Folha “Pravda” de São Paulo: “Ateísmo, não!”

segunda-feira, janeiro 21, 2008

O leitor talvez se espante e pergunte: “Por que ‘Pravda’ entremeado no nome do maior e mais respeitável jornal brasileiro moderno?” A Folha de São Paulo, não é um jornal a serviço do Brasil? Pravda significa ‘verdade’ em russo e foi nome do jornal oficial do Partido Comunista da ex-URSS. A ‘verdade’ era o que o PC contava. Fora do “Pravda”, não havia verdade na URSS e satélites.



Contudo, a Folha “Pravda” de São Paulo não está interessada na verdade qua verdade. Está sim, a serviço dos seus próprios interesses que a lógica do capitalismo selvagem afirma: o lucro pelo lucro, não importa quem seja atropelado, oops seja eliminado no meio do caminho na sua corrida pela sobrevivência. O editorial “Criacionismo, não!” tenta de forma canhestra desestabilizar a Ministra Marina Silva no atual governo.

O editorial da Folha “Pravda” de São Paulo é também Darwin uber alles aplicado plenamente e sem questionamentos na cultura, na sociedade, em tudo que se puder imaginar, pois somente o mais apto sobrevive. Darwinismo, oops stalinismo puro. Aliás, a Folha “Pravda” de São Paulo é mais stalinista do que Stálin: um jornal “mão de ferro” dominado por ateus, agnósticos, céticos e quejandos.

Apesar do editorial tipo “cala a boca, Marina” em defesa do estado laico, nem Darwin, e muito menos a Folha “Pravda” de São Paulo explicam a origem do mais apto. Sendo totalitarista na sua visão, a Folha “Pravda” de São Paulo literalmente nunca segue seu manual de redação, pois nunca ouve e nem dá espaço em suas páginas para o contraditório. “Ouvir o outro lado? Isso não te pertence mais!”.

Na mesa-redonda encerrando a V São Paulo Research Conference – “Teoria da Evolução: Princípios e Impactos”, no dia 20 de maio de 2006, Marcelo Leite, colunista da Folha “Pravda” de São Paulo, instado sobre o avanço no Brasil das opiniões contrárias às especulações transformistas de Darwin, de forma stalinista a la Beria assim declarou: “Não damos espaço!”

Eu vou fazer novamente o papel de advogado do Diabo dos de concepções religiosas, e glosar aqui o editorial “Criacionismo, não” da Folha “Pravda” de São Paulo de 20/01/2008, e mostrar que realmente desta vez a Folha “Pravda” de São Paulo tem toda a razão, oops toda a verdade do seu lado.

Ateísmo, não!
GRAVES E COMPLEXOS problemas não faltam à ministra Marina Silva, em suas atividades na pasta do Meio Ambiente. Como se estes não bastassem, sua participação no 3º Simpósio sobre Ateísmo e Mídia, promovido pelo Centro Universitário Ateísta de São Paulo – Diálogos Impertinentes (Folha “Pravda” de São Paulo), veio a colocá-la em dificuldades de outro tipo, diante das quais o cargo que ocupa no Estado brasileiro recomenda cautela que não soube observar.

Em palestra intitulada “Meio Ambiente e Ateísmo”, Marina Silva valeu-se de sua formação ateísta para transpor em chave filosófico-ateísta o tema da preservação dos recursos do planeta.

Nada que inspirasse maiores reparos, portanto – assim como não se discute o direito de um ministro professar, pessoalmente, qualquer tipo de ateísmo ou teísmo.

Os adeptos do ateísmo, entretanto, não se contentam com pouco – como política de Estado eles cometeram um Holocausto global: mataram mais de 100 milhões de pessoas no século 20 – e depois da conferência a ministra foi instada, em entrevista, a dar sua opinião sobre o ensino das filosofias ateísta-materialistas nas escolas públicas brasileiras. Num estilo próximo ao dos ultraliberais russos, considerou a la Mikhail Gorbachev que “as duas visões” devem ser oferecidas aos alunos, para que “decidam” por si mesmos.

Sob uma aparência de equanimidade, a tese faz parte de uma investida anticientífica que, com firmeza, cumpre repudiar. Pode-se, é claro, sustentar que o ateísmo pessoal é compatível com o espírito científico; que ateísmo e ciência não se opõem.

Talvez não se oponham, mas certamente não se misturam. E é isto o que o ateísmo tenta fazer, sem base cientificamente comprovada, e com um aparato de falácias que um estudante médio, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, não tem condições de identificar, mas é enfiado goela abaixo e sem direito a questionar ou de espernear.

Que o ateísmo fique onde está, e não se faça de ciência: eis uma exigência, afinal modesta, mas inegociável, da modernidade.

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Fui, pensando que a Folha “Pravda” de São Paulo precisa passar urgentemente por uma Glasnost e Perestroika em lidar com o contraditório! Uma exigência modesta, mas inegociável da modernidade de uma sociedade livre e plural.

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Recebeu destaque no JC E-Mail 3434 de 21/01/2008, órgão de divulgação científica da SBPC.

Corrigindo a National Academy of Sciences sobre o Design Inteligente — Parte 1 de 3

Esta série deve ser lida à luz do ‘silêncio pétreo’ da Nomenklatura científica e da falta de objetividade jornalística da Grande Mídia que têm violado os direitos humanos de toda a sociedade brasileira ter acesso a informações científicas sobre as insuficiências epistêmicas fundamentais das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida no contexto de justificação teórica.

A ciência não pode andar de mãos dadas com a mentira! (Shimon Perez, ex-primeiro-ministro de Israel)

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Os fatos sobre o Design Inteligente: uma resposta ao livro Science, Evolution, and Creationism da National Academy of Science
Por Casey Luskin, casey@ideacenter.org

Versão 1.0. Copyright © 2008. Permissão para ser reproduzido gratuitamente para fins educativos.

Introdução

Uma pesquisa de opinião de 1982 revelou que somente 9% dos americanos acreditam que os seres humanos se desenvolveram através de processos evolucionários puramente naturais. Dois anos mais tarde, a NAS [National Academy of Sciences – Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos] lançou o seu primeiro livreto Science and Creationism [Ciência e criacionismo}, afirmando que a ciência e a religião ocupam “áreas separadas e mutuamente exclusivas.”[1] O ceticismo do público da evolução permaneceu alto — uma pesquisa de opinião de 1993 mostrou que apenas 11% dos americanos acreditavam que os seres humanos se desenvolveram através de processos evolutivos estritamente naturais.

Em 1999 a lançou a segunda versão do Science and Creationism, reafirmando novamente ao público que “a ciência e a religião ocupam duas áreas separadas.”[2] O ceticismo público ainda permanece alto — uma pesquisa de opinião pública de 2004 revelou que somente 13% dos americanos acreditam que os seres humanos se desenvolveram através de processos evolucionários estritamente naturais, e uma pesquisa de opinião Zogby de 2006 revelou que cerca de 70% dos americanos apóiam incluir a crítica científica da evolução no currículo da escola pública.

Temendo o ceticismo obstinado do público da evolução, a NAS agora lançou outro edito ex cathedra promovendo a informação errada sobre o Design Inteligente (DI), e os blefes acerca do status científico da evolução darwiniana. O que se segue é uma discussão de alguns dos erros no livreto Science, Evolution, and Creationism [Ciência, evolução e criacionismo].

A NAS exagera a importância científica da evolução.

Com uma foto de um filhote de chimpanzé fofinho na sua capa, o novo livreto da NAS, Science, Evolution, and Creationism afirma, “A biologia evolutiva tem sido e continua sendo a pedra angular da ciência moderna.” Esta declaração extensa não fala por todos os membros da NAS. Conforme Philip Skell, membro da NAS, escreveu na revista The Scientist em 2005:

“A evolução darwiniana — quaisquer que sejam suas outras virtudes — não fornece uma heurística frutífera na biologia experimental. Isso se torna especialmente claro quando nós a comparamos com uma estrutura heurística como o modelo atômico, que revela a química estrutural e conduz a avanços na síntese de um grande número de novas moléculas de benefício prático. Nada disso demonstra que o darwinismo é falso. Isso, contudo, significa que a afirmação de que [a evolução] é a pedra angular da biologia experimental moderna irá se deparar com o ceticismo quieto de um crescente número de cientistas em áreas em que as teorias realmente servem de pedra angular para descobertas importantes tangíveis.”[3]

Alguns biólogos evolutivos também iriam discordar com as afirmações da NAS no seu novo livreto de que a evolução tem fornecido muitos benefícios agrícolas, medicinais, ou outros benefícios comerciais para a sociedade. Como o biólogo evolucionista Jerry Coyne admitiu na revista científica Nature, “a melhora nas colheitas de plantas e de animais ocorreu muito antes que nós conhecêssemos alguma coisa sobre a evolução, e surgiu com as pessoas seguindo o princípio genético de “semelhante gera semelhante.”[4]

Mesmo quanto tenta combater a resistência antibiótica, a teoria de Darwin fornece pouca direção. Como Michael Engnor, professor de neurocirurgia da SUNY [State University of New York]relembra, “O darwinismo nos diz que … as bactérias sobrevivem aos antibióticos que elas não são sensíveis, de modo que as bactérias que não morreram irão, eventualmente, suplantar as bactérias mortas. É só isso.” [5] Provavelmente por esta razão que Coyne admitiu à revista científica Nature que “se a verdade for dita, a evolução não tem produzido muitos benefícios práticos ou comerciais. Sim, as bactérias desenvolvem gradualmente a resistência à droga, e sim, nós devemos tomar medidas contrárias, mas, além disso, não há muito que dizer.” [6] Para criar realmente drogas que possam derrotar as bactérias evoluídas ou as células cancerígenas, os pesquisadores biomédicos devem utilizar um processo de design inteligente.

A NAS eleva acientificamente a evolução ao status de dogma inquestionável.

A NAS define a evolução como sendo evolução através da seleção natural, e afirma que “não há nenhuma controvérsia científica sobre os fatos básicos da evolução,” afirmando que a evolução “é tão bem estabelecida que nenhuma nova evidência irá alterá-la”. Fazendo assim, a NAS trata a evolução neodarwinista como um dogma inquestionável, e não como uma ciência. Tais afirmações da NAS são perigosas porque elas ameaçam o prestígio da NAS como uma voz objetiva e confiável aconselhando a sociedade.

Além disso, a afirmação da NAS de que não há nenhuma controvérsia sobre a evolução é um blefe, pois há dissensão científica significante da visão da evolução através da seleção natural. A eminente bióloga Lynn Margulis, que se opõe ao DI, critica o mecanismo darwinista padrão declarando que “a afirmação darwiniana para explicar toda a evolução é uma meia-verdade popular cuja falta de poder explicativo é compensada somente pela ferocidade religiosa de sua retórica.”[7] Ela ainda destaca que “as novas mutações não criam novas espécies; elas criam uma geração que é deteriorada.”[8] Em 2001, o bioquímico Franklin Harold admitiu numa monografia publicada pela Oxford University Press que “não existem presentemente relatos darwinianos detalhados da evolução de qualquer sistema bioquímico ou celular, somente uma variedade de especulações desejosas que fosse realidade.”[9] Outros cientistas foram além disso.

Mais de 700 cientistas com Ph. D. [N. do Blogger: Nesta lista há vários cientistas brasileiros de universidades públicas] assinaram uma declaração pública ] afirmando seu assentimento de que eles “são céticos das afirmações da capacidade da mutação aleatória e da seleção natural serem responsáveis pela complexidade da vida.”[10] Mas o que esses cientistas devem fazer quando a principal organização científica dos Estados Unidos proclama que a evolução é tão inquestionável quanto a existência de átomos ou do modelo heliocêntrico do sistema solar? Claramente as afirmações da NAS ameaçam a liberdade acadêmica dos cientistas em serem dissidentes da evolução neodarwinista.

Semelhantemente a NAS recomenda que os educadores de ciência adotem uma posição dogmática no ensino da evolução, opondo-se aos “pedidos de introdução da ‘análise crítica’ em aulas de ciência,” afirmando que “o pedido do movimento do Design Inteligente para ‘ensinar a controvérsia’ não tem fundamentação.” Mas muitos educadores de ciência já leram a discordância científica sobre o neodarwinismo, e não podem assim aceitar o blefe da NAS de que “não existe nenhuma controvérsia científica” sobre a evolução. O que tais educadores devem fazer quando a principal organização científica dos Estados Unidos diz para eles que a evolução não deve ser questionada na sala de aula? As afirmações da NAS ameaçam esfriar a liberdade acadêmica dos professores ensinarem aos alunos sobre a dissensão científica do darwinismo. Tristemente, isso somente servirá para perpetuar o declínio da educação americana em ciência.

A história da ciência mostra que os cientistas freqüentemente derrubam idéias que uma vez foram aceitas como sendo fatos provados. Se o neodarwinismo for abandonado, a história vai considerar este documento da NAS como obstruindo o progresso da ciência e da educação por se opor ao pensamento crítico sobre a evolução.

A NAS deturpa os fatos sobre o status da pesquisa da origem da vida.

Na sua edição anterior do Science and Creationism (2a. ed., 1999) [11] a NAS fez a espalhafatosamente falsa asserção de que “muitos caminhos [são conhecidos que] podem ter seguido na produção das primeiras células.” Apesar disso, os cientistas nunca criaram vida no laboratório, muito menos terem descoberto quaisquer caminhos plausíveis através dos quais as células possam ter se originado sob condições imitando as condições naturais sobre a Terra primitiva. Embora seja encorajador ver que a NAS removeu a falsa afirmação de sua última edição do livro Science, Evolution and Creationism, a NAS ainda exagera drasticamente na afirmação do sucesso dos cientistas tentando explicar a origem química natural da vida.

No livreto Science, Evolution, and Creationism, a NAS assevera que “os pesquisadores têm desenvolvido hipóteses de como organismos auto-replicantes poderiam se formar e começar a evoluir, e que eles testaram a plausibilidade dessas hipóteses nos laboratórios.” Embora aquela declaração seja tecnicamente verdade num nível extremamente raso, a NAS obscurece o fato que os cientistas estão muito longe do que qualquer coisa remotamente próxima de uma explicação completamente plausível da origem química da vida. Como o escritor científico Gregg Easterbrook resumiu a questão recentemente, “O que cria a vida a partir de compostos químicos inanimados que se constituem as coisas vivas? Ninguém sabe. Como foram formados os primeiros organismos? A natureza não nos tem dado a pista mais insignificante. Se alguma coisa, o mistério tem se aprofundado ao longo do tempo.” [12]

A segunda deturpação da NAS é encontrada na afirmação de que “centenas de experiências em laboratórios têm demonstrado que os elementos químicos mais simples da Terra, inclusive a água e gases vulcânicos, poderiam ter reagido para formarem muitos dos blocos moleculares construtores da vida, inclusive as moléculas que produzem as proteínas, o DNA, e as membranas celulares.” Esta afirmação é enganadora porque a maioria daquelas experiências usou gases e compostos químicos que não são considerados como tendo existido na Terra primitiva. Quando a água e gases vulcânicos são usados em tais experiências tentando sintetizar os blocos pré-bióticos construtores da vida, virtualmente não são geradas moléculas biológicas precursoras. É tão drástica a evidência contra a síntese pré-biótica dos monômeros biológicos que em 1990 o Space Studies Board do National Research Council recomendou que os cientistas da origem da vida empreendessem um “reexame da síntese biológica dos monômeros sob ambientes tipo Terra primitiva, conforme revelado nos atuais modelos da Terra primeva.”[13]

Produzir os precursores pré-biológicos para a vida é somente o começo do problema para os pesquisadores da origem da vida, como Stanley Miller admitiu uma vez que “produzir compostos químicos e produzir vida são duas coisas diferentes.”[14] Quando tentarem “produzir” a primeira forma de vida, os cientistas não podem se apoiar em processos darwinistas. A evolução darwiniana requer replicação, e antes da origem da vida não havia replicação. O teórico da origem da vida Robert Shapiro explica que uma explicação para a primeira molécula auto-replicadora “ainda não foi descrita ou demonstrada em detalhes” mas “é assumida na filosofia do materialismo dialético.”[15]

Dar a razão da origem da molécula auto-replicadora ainda não explicaria como que as células modernas surgiram. O nosso código de DNA precisa de um sistema complexo irredutível exigindo a informação no DNA, as enzimas que ajudam na replicação e proteção do DNA, precisam de uma parede celular protetora, e de uma maquinaria de sistema complexo usado na transcrição e tradução da língua do DNA em proteína. Deparando com a complexidade deste sistema, o biólogo Frank Salisbury lamentou em 1971 que “todo o sistema deve surgir como uma unidade, ou é inútil. Pode haver saídas para este dilema, mas eu não as vejo no momento.” [16] Em 1995, os eminentes biólogos John Maynard Smith (já falecido) e Eors Szathmary explicaram que explicar a origem desse sistema permanece “talvez o problema mais perplexo na biologia evolutiva” porque “a maquinaria de tradução existente é ao mesmo tempo tão complexa, tão universal, e tão essencial que é difícil de ver como que isso passou a existir ou como que a vida poderia ter existido sem isso.”[17]

Nós já sabemos ao estudarmos a inteligência humana que a linguagem e a informação codificada — propriedades fundamentais para a vida — vêm de agentes inteligentes. Um cientista escreveu numa importante publicação científica que “acaso e necessidade não podem explicar os sistemas de sinais, o significado, o propósito, e os objetivos,” e já que “a mente possui outras propriedades que não tem essas limitações,” é, “portanto muito natural que muitos cientistas acreditem que a vida é antes um subsistema de alguma Mente muito maior do que os humanos.” [18] A informação especificada e complexa baseada em linguagem contida no DNA é exatamente o tipo de código ou linguagem que Stephen C. Meyer reconhece, “invariavelmente se origina de uma fonte inteligente, de uma mente, de um agente pessoal.” [19] Os proponentes do Design vêm a incrível quantidade de informação complexa e especificada codificada baseada na linguagem no DNA testificando que um programador esteve envolvido na origem da vida.

A NAS se recusa em considerar a possibilidade de design, e somente admite de má vontade que existem mistérios não resolvidos sobre a origem da vida. Mas a estratégia da NAS não é encorajar o ceticismo científico, mas antes encorajar o leitor a ter fé que a ciência solucionará esses problemas, como eles escrevem: “A história da ciência mostra que até perguntas muito difíceis tais como a vida se originou podem se tornar passível de solução como resultado de avanços na teoria, o desenvolvimento de nova instrumentação, e a descoberta de novos fatos.” Tal afirmação encoraja os leitores a ter fé no poder da ciência em vez de simplesmente reconhecer que existem questões não resolvidas sobre a origem da vida. Na verdade, a história da ciência também mostra que os cientistas freqüentemente se apegam a más teorias apesar de dados contrários. Talvez um dia a história vá considerar os cientistas que afirmaram que a vida surgiu via processos não inteligentes como se apegando a idéias por razões filosóficas em vez de seguirem a evidência aonde ela for dar — em direção ao design inteligente.

[N. do Blogger: A X São Paulo Research Conferences sobre as “Origens da Vida” será realizada na USP de 19-21 de junho de 2008.

Naquele evento de 2008, cientistas e outros pesquisadores, até mitologistas, secularistas e metafísicos presumo, vão tentar resolve o maior de todos os problemas científicos até hoje não resolvido: explicar cientificamente a origem da vida procariótica, especialmente do seu aparato de síntese das proteínas baseadas no DNA. Vide blog sobre a conferência sobre este mistério dos mistérios].

Referências Citadas:

[1] Science and Creationism: A View from the National Academy of Sciences, 1st edition, 1984.

[2] Science and Creationism: A View from the National Academy of Sciences, 2nd edition, 1999.

[3] Philip Skell, “Why Do We Invoke Darwin? Evolutionary theory contributes little to experimental biology,” The Scientist (August 29, 2005)

[4] Jerry Coyne, "Selling Darwin: Does it matter whether evolution has any commercial applications?," reviewing The Evolving World: Evolution in Everyday Life by David P. Mindell, in Nature, Vol 442:983-984 (August 31, 2006).

[5] Michael Egnor, “Quick, Nurse, Give the Patient a Tautology!,”

[6] Coyne (2006).

[7] Lynn Margulis and Dorion Sagan, Acquiring Genomes: A Theory of the Origins of the Species, pg. 29 (Basic Books, 2003).

[8] Lynn Margulis quoted in Darry Madden, "UMass Scientist to Lead Debate on Evolutionary Theory," Brattleboro (Vt.) Reformer (Feb 3, 2006).

[9] Franklin M. Harold, The Way of the Cell: Molecules, Organisms and the Order of Life, pg. 205 (Oxford University Press, 2001).

[10] See "A Scientific Dissent from Darwinism,"

[11] Para uma crítica daquele documento, vide Casey Luskin, "A Critical Analysis of Science and Creationism: A View from the National Academy of Sciences (2nd. ed),"

[12] Gregg Easterbrook, “Where did life come from?,” Wired Magazine, pg. 108 (February, 2007).

[13] National Research Council Space Studies Board, The Search for Life's Origins (National Academy Press: Washington D.C., 1990).

[14] Declarações feitas por Stanley Miller numa palestra dada por ele no seminário de Origens da Vida na UCSD em 19 de janeiro de 1999.

[15] Robert Shapiro, Origins: A Skeptics Guide to the Creation of Life on Earth, pg 207 (Summit Books, 1986).

[16] Frank B. Salisbury, "Doubts about the Modern Synthetic Theory of Evolution," pg. 338, American Biology Teacher (September, 1971).

[17] John Maynard Smith and Eors Szathmary, The Major Transitions in Evolution, pg. 81 (W.H. Freeman, 1995).

[18] Øyvind Albert Voie, “Biological function and the genetic code are interdependent,” Chaos, Solitons and Fractals 28.4 (2006): 1000–4.

[19] Stephen C. Meyer, “The Origin of Biological Information and the Higher Taxonomic Categories,” Proceedings of the Biological Society of Washington 117.2 (2004): 213–29.

Google: armazenamento gratuito de dados científicos para livre acesso

domingo, janeiro 20, 2008

Já imaginou armazenar terabytes de informação científica gratuitamente? É isso mesmo: informação científica armazenada e acessada gratuitamente.

Esta notícia do blog Wired já está dando o que falar: terabytes de espaço de armazenagem gratuitos nos servidores da Google para projetos científicos que quiserem compartilhar os dados livremente:



“O armazenamento preencherá uma grande necessidade para os cientistas que querem compartilhar abertamente seus dados, e permitiriam a cidadãos cientistas acessarem a uma quantidade inédita de dados a serem explorados. Por exemplo, duas bases de dados planejadas são todos os 120 terabytes de dados do telescópio espacial Hubble, e as imagens dos Palimpsestos de Arquimedes, o manuscrito do século 10 que inspirou o projeto de armazenagem de bases de dados do Google.

Isto parece ser uma opção promissora para algumas (embora, provavelmente, nem todas) as bases de dados de paleoantropologia. Porque isso ajuda a abordar duas maiores questões. Uma (em primeiro lugar na percepção de todos) é o acesso aos dados. Mas, ainda que isso seja problemático para muitas pessoas, eu quero dizer que uma ameaça muito maior é o futuro a longo prazo das bases de dados assim que os coletores originais se retirarem, perderem o interesse, morram, tornem-se extravagantes (não que eu conheça algum que seja extravagante...). O Google é gratuito, e eles mantêm backups!”

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Tirando o chapéu para John Hawks.

A Universidade Presbiteriana Mackenzie provoca debate polêmico e controverso de visões extremas da evolução no Brasil

sexta-feira, janeiro 18, 2008

A universidade é o local ideal de debate do universo das idéias. Hoje, infelizmente, o que assistimos em nossas universidades públicas e privadas é a manutenção engessadora da Nomenklatura científica de paradigmas colapsantes devido ao avanço da ciência sem a discussão livre e sem censura de contrapontos teóricos alternativos. Cheira a medievalismo, mas esta é a posição pós-moderna da liberdade acadêmica de ousar pensar caminhos contraditórios.



O Mackenzie sendo fiel à sua tradição e pioneirismo em educação vai promover o I Simpósio Internacional – DARWINISMO HOJE é uma iniciativa da Universidade Presbiteriana Mackenzie que reunirá pesquisadores no campo das diferentes áreas do saber, com a finalidade de integrar esforços para promover um amplo debate sobre as interpretações do Darwinismo, Criacionismo e Design Inteligente.

Sendo a Academia o lugar propício para o debate, é imprescindível que se apresente o contraditório e, por isso, embora o Darwinismo tenha se tornado um paradigma científico, outras interpretações, movidas por diferentes cosmovisões são aceitas e difundidas e defendidas cientificamente.

O tema está dividido em três grandes eixos:

Darwinismo
Criacionismo
Design Inteligente

Visando à integração de um processo de aprimoramento científico, é imperioso que a Universidade Presbiteriana Mackenzie se abra para o estudo do paradigmático ao contraditório, do Evolucionismo ao Criacionismo.

O evento realizar-se-á nos dias 08 a 10 de abril 2008, nos campi São Paulo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

As inscrições para participação estarão abertas a partir de 30/01/2008 até a data do Evento.

Os participantes receberão certificados de participação.

Sobre os Palestrantes

Dr. Aldo Mellender de Araújo
Possui graduação em História Natural (1967) e doutorado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1973). Realizou estágios na University of Liverpool (1975) e na Cornell University (1976), sobre história da genética e evolução. Atualmente é professor titular do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IB - UFRS), atuando na área de história e epistemologia das idéias sobre evolução biológica.


Dr. Paul Nelson
Paul Nelson é filósofo da Biologia, especializado em biologia do desenvolvimento. Tem um PhD em Filosofia pela Universidade de Chicago. Sua tese, publicada sob a forma de livro pela Universidade de Chicago, oferece uma crítica a aspectos da teoria da macroevolução à luz dos desenvolvimentos mais recentes na embriologia e da biologia do desenvolvimento. Nelson é membro da International Society for Complexity, Information and Design [Sociedade Internacional para a Complexidade, Informação e Design] e do Center for Science and Culture [Centro de Ciências e Cultura] do Discovery Institute. Autor de vários artigos científicos em revistas especializadas.

Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira
Engenheiro Mecânico-Eletricista pela USP, Livre-Docente e Catedrático de Mecânica dos Fluidos na EESC-USP. Tem vários livros e artigos científicos publicados. Foi presidente da FAPESP, e atualmente é presidente e fundador da Sociedade Criacionista Brasileira.

ORGANIZAÇÃO

COMISSÃO ORGANIZADORA

PRESIDENTE DE HONRA
Augustus Nicodemus Gomes Lopes

PRESIDENTE
Marcel Mendes

SECRETÁRIA EXECUTIVA
Terezinha Jocelen Masson

COMISSÃO EXECUTIVA
Beatriz Regina Pereira Saeta
David Charles Gomes
Fernando de Almeida
Francisco Solano Portela Neto
Gustavo Augusto Schmidt de Melo Filho
Hermisten Maia Pereira da Costa
Jedeías de Almeida Duarte
Marcel Mendes
Mauro Meister

COMISSÃO CONSULTIVA
Ademar Pereira
Manassés Claudino Fontelles
Pedro Ronzelli Jr.
Regina Célia Faria Amaro Giora
Sandra Maria Dotto Stump
Sueli Galego de Carvalho

CONFERENCISTAS
Dr. Aldo Mellender de Araújo – UFRS – Instituto de Biociências
Dr. Paul Nelson – Discovery Institute/Center for Science and Culture
Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira - Presidente da Sociedade Criacionista
Brasileira

APOIO LOGÍSTICO
Agenor Braga Nascimento
José Augusto Pereira Brito
José Rubens Pacheco Martins
Valdomiro da Silva Lopes
Pedro Clarindo Junior
Claudio Pereira Jorge Guimarães

SECRETARIA
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prédio: 12
e-mail: simposio.darwinismo@mackenzie.com.br
Fones: (011) 2114-8345 / 2114-8754

Secretárias:
Mariana Minguini
Susana Cristina de Araújo
Maria Isabel Meca

PROGRAMAÇÃO

INSCRIÇÕES

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Este blogger, e outros membros do NBDI, participarão deste evento.

Vamos todos à Universidade Presbiteriana Mackenzie respirar ares de liberdade epistêmica!!!