As cartas de Darwin online

sábado, maio 19, 2007

Cartas de Darwin vão para a internet

JC E-Mail 3266, de 18 de maio de 2007

"Pode ser uma delícia para quem se interessa, mas como eu gosto mais de mulheres solteiras do que daquelas no estado abençoado, eu declaro [isso] um tédio."

O rapaz que declina os supostos prazeres do casamento na frase acima é provavelmente a última pessoa que poderia ser chamada de playboy mulherengo: Charles Robert Darwin, pai da teoria da evolução das espécies pela seleção natural.

A carta, endereçada à irmã Caroline em abril de 1832 (escrita, por sinal, no Rio de Janeiro), é uma das 5.000 correspondências de Charles Darwin que estão à disposição na internet desde ontem.




O site Darwin Correspondence Project é a primeira base de dados a reunir textos integrais das cartas que o naturalista inglês trocou com mais de 2.000 pessoas ao longo da vida.

Há correspondências de e para parentes (Caroline, irmã mais velha, era uma de suas maiores confidentes), amigos, como Charles Lyell, pai da geologia moderna, Thomas Huxley, maior defensor de Darwin, e Alfred Russel Wallace, co-descobridor da seleção natural.

++++ Nota do blogger: a seleção natural, conforme Daniel Dennett, a maior idéia que a humanidade já teve, não é original em Darwin nem Wallace. O próprio Darwin reconheceu isso no Origem das Espécies: Dr. W. C. Wells (1813), Patrick Matthew (1831) e Owen (1849) já tinham falado sobre o assunto bem antes dele. Edward Blyth, a quem Darwin reconhecia como de abalizada opinião pelos conhecimentos que tinha, descreveu a seleção natural como sendo um processo conservador. Blyth foi intencionalmente omitido por Darwin. Por quê? Darwin teria plagiado e distorcido as idéias de Blyth?++++

Resultado de um esforço de dez anos para reunir e transcrever o acervo (mais de 14 mil cartas já foram localizadas) em formato digital, o site promete ser a fonte de muitas pesquisas sobre a trajetória intelectual de Darwin, e de algumas respostas sobre controvérsias históricas (como qual era de fato a posição do gênio britânico sobre a religião).

Mas, mais do que isso, dá vislumbres saborosos da vida pessoal do cientista -como uma carta, escrita aos 12 anos a um amigo não-identificado, na qual o jovem Charles confessa que só lava os pés uma vez por mês. “Não posso evitar”, escorrega. (Claudio Angelo)
(Folha de SP, 18/5)