A ‘desinteligência’ de um doutor pela UNICAMP

segunda-feira, janeiro 15, 2007

“Desinteligência: Como traduzir a expressão inglesa "intelligent design"?” de Marcelo Leite, cienciaemdia@uol.com.br doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, responsável pelo blog Ciência em Dia http://www.cienciaemdia.zip.net/, publicado no caderno “Mais!” da “Folha de SP”, de 14/01/2007, e divulgado no JC E-Mail http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=43785 .

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O objetivo fundamental da lógica (?) no artigo de Marcelo Leite foi tentar desacreditar a teoria do Design Inteligente e ‘demonizar’ seus proponentes aqui no Brasil como ignorantes da língua portuguesa. O nosso novo ‘Aurélio’ tenta esclarecer aos leitores não especialistas como que a expressão inglesa “intelligent design” deveria ter sido traduzida para a língua portuguesa.

Não vou perder o tempo precioso dos leitores com a analogia infantil utilizada no artigo. Infantil demais. Para não dizer medíocre. Vamos ao que interessa. Marcelo Leite, o nosso mais novo purista da língua portuguesa, ‘stalinista’ à la Aldo Rebelo, pergunta no artigo: qual é a melhor tradução em português para a expressão inglesa "intelligent design"? Qual a resposta marota pré-fabricada e mal-intencionada dele? "Design inteligente", responderá a maioria dos que já se debruçaram sobre tal doutrina.

Marcelo Leite não destaca, mas a palavra ‘doutrina’ não tem a conotação ‘metafísica’ que ele tentou matreira e intencionalmente impingir à teoria do Design Inteligente. Eu vou ao “Aurélio”, o verdadeiro dicionarista, e eis a definição de ‘evolucionismo’: S. m. Doutrina filosófica ou científica baseada na idéia da evolução. 2. Biol. Designação comum às doutrinas (darwinismo, lamarckismo) que ensinam a mutabilidade das espécies. [1]

Marcelo Leite, o nosso novo Kuhn-Lakatos-Popper ‘demarcacionista’ profere ex-cathedra que a teoria do Design Inteligente “não merece o nome de teoria” porque afirmaria que “o mundo vivo contém organismos, órgãos e estruturas tão complexos que jamais poderiam ser frutos do acaso” em contraposição ao sustentado pela teoria darwiniana da seleção natural, essa sim, segundo o nosso epistemologista-mor é que seria “teoria” no sentido de conhecimento racional com base empírica e não no senso comum de “hipótese”. Vai aqui um desafio para Marcelo Leite: como falsear a ‘hipótese’ da ancestralidade comum? (Darwin); como falsear a complexidade irredutível de sistemas biológicos? (Design)

Este artigo chinfrim de Marcelo Leite revela que o doutor pela Unicamp nunca leu as obras de Michael Behe e William Dembski. A teoria do Design Inteligente afirma que ‘certos eventos no universo e na natureza são melhor explicados por causas inteligentes’ e que essas causas inteligentes são empiricamente detectadas todas as vezes que nós encontrarmos ‘complexidade irredutível’ em sistemas biológicos (Michael Behe, “A caixa preta de Darwin”, Rio de Janeiro, Zahar, 1997) e ‘informação complexa especificada’ na natureza (William Dembski, “The Design Inference: Eliminating Chance Through Small Probabilities, Cambridge, Cambridge University Press, 2000). Marcelo Leite, uma pergunta impertinente: Você já leu Behe e Dembski? Seu artigo ‘desinteligente’ demonstra que não.

Marcelo Leite, sente-se para não cair de costas. Não temos seguro de vida para críticos mordazes e sagazes do DI. A teoria do Design Inteligente foi assim acolhida em nosso vernáculo graças à tradutora de seu ídolo Richard Dawkins: “A biologia é o estudo das coisas complexas que dão a impressão de ter um design intencional”. [2] Richard Dawkins tem sido o nosso maior ‘proponente’. Graças a ele nós temos um nome ‘chic’ em Pindorama: Design Inteligente!

Marcelo Rebelo, oops, Leite tenta impedir a todo custo a ‘evolução lingüística’ da língua portuguesa ao lançar mão de palavras estrangeiras que se incorporam ao nosso léxico. Não aceitar este fenômeno lingüístico ‘evolutivo’ é condenar as línguas a um purismo insosso. A palavra “design” já se incorporou à língua portuguesa, com sentidos diversos, como “desígnio”, “desenho” e “projeto”, mas eu desconheço alguém que tenha feito Arquitetura e cursado a matéria de “Projeto”, “Desígnio” ou até mesmo de “Desenho”. Eles fizeram a matéria de “Design”.

A questão de ser mais um vocábulo na longa lista de anglicismos, como “software”, “commodity”, “best seller” e até “mídia”, em nada depõe com o vocábulo escolhido pelos teóricos e proponentes da teoria do Design Inteligente. Não é questão de tendência, mas de corretamente utilizar o termo escolhido pelos que expõem e defendem uma teoria científica. Só para contrariar, Marcelo, mas até a comunidade científica brasileira já adotou a expressão “design inteligente”.

Não sendo um conhecedor da heurística da teoria do design inteligente, Marcelo Leite, o nosso oráculo do Monte Olimpo, oops, da Folha de São Paulo, diz que o termo “desígnio” acentua melhor a intencionalidade pleonasticamente visada pelo complemento “inteligente”, referindo-se mais a um projetista do que de um projeto. Traduzindo em miúdos, há má intenção da parte dos adeptos dessa doutrina que, segundo o doutor pela Unicamp, é de “inspiração criacionista”. A teoria do Design Inteligente, Marcelo Leite, não engabele seus leitores, é de inspiração baconiana - fomos à natureza e fizemos perguntas. Seguimos as respostas aonde elas foram dar...

Essa picuinha lingüística purista de Marcelo Leite em relação ao termo ‘design inteligente’ é compreensível. Outras grandes mentes ‘céticas’ como Michael Shermer e Donald Prothero também já expressaram essa dificuldade. Nada a ver com Deus ou a Sua obra, mas com ‘sinais de inteligência’ que podem ser detectados se tiverem ‘design intencional’. Nada a ver com “Desígnio inteligente” que relegaria a um segundo plano a metáfora implícita do Grande Arquiteto, tão cara aos seus seguidores segundo Marcelo Leite. Ele não sabe, mas no movimento do Design Inteligente nós já temos alguns ateus e muitos agnósticos de renome como David Berlinski, Ph. D. em Matemática pela Princeton University.

O ‘design inteligente’ não é redundante, mas é entendido pela comunidade do Design Inteligente referindo-se simplesmente à agência inteligente independente de habilidade ou capacidade de otimização. Além disso, o design inteligente precisa ser distinguido do ‘design aparente’ (Darwin et al) e do ‘design otimizado’. Em trocados, o design inteligente afirma que o design é devido a uma inteligência verdadeira, mas deixamos em aberto os atributos e qualidades daquela inteligência por serem questões filosófico-teológicas. Mas aqui uma pergunta intrigante ainda não resolvida pelas melhores mentes: o que precede, a matéria ou a mente? Será que Marcelo Leite pode nos iluminar aqui?

Se a expressão “design inteligente” desagrada tanto a Marcelo Leite e a Folha de São Paulo, mas caiu na boca do povo, eles que coloquem suas barbas de molho: o Design Inteligente veio para ficar e incomodar um paradigma moribundo há mais de um quarto de século e do pleno conhecimento de suas insuficiências epistêmicas por parte de guarda-cancelas epistemológicos assim! E nunca abordados pelo jornal que foi corajosamente combativo na ditadura militar recente, mas que se acovarda e se apequena quando a questão é Darwin – uma teoria do século 19!

A história do jornalismo científico tupiniquim vai demonstrar que desde 1998 a relação incestuosa da ‘mídia’ com a Nomenklatura científica os brasileiros vem tendo sua cidadania violentada pela nossa Grande Mídia: o direito à informação quanto ao status de uma teoria que até os evolucionistas já disseram precisa ser urgentemente substituída (William Provine, Cornell University) porque ‘morta epistemicamente’.

Marcelo Leite, este foi o seu artigo mais ‘desinteligente’ que já li nesta Folha de São Paulo, tida como o jornal avant-garde do Brasil.

Durma-se com um barulho desses!

[1] Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa FOLHA/Aurélio, FSP/Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1988, p. 282.

[2] DAWKINS, R. O relojoeiro cego. Trad. de Laura Teixeira Motta. São Paulo, Companhia das Letras, 2001, p. 18.